sábado, novembro 08, 2008

Preto, porco, gordo e especial.

Ourique, de novo. A vila vive a calma alentejana das seis da tarde de um sábado, que é a calma alentejana de todos os outros dias da semana no Alentejo.
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O homem tem na mão um cálice que não condiz com os seus traços e um pedaço de pão com presunto de porco alentejano.
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- “Então Zé, como é que isso vai? Esse foste tu que o engordaste. Está bom, o presunto?”
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O Zé sorri e assente. Chama-se José Dias e tem 52 anos.
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“Fui pastor de todo o tipo de gado: porcos, ovelhas, vacas... “, conta-me. “O meu pai foi pastor, o meu avô foi pastor. Que vida havia eu de tomar? Agora tomo conta do porco alentejano.”
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E enche a boca de pão, que empurra com vinho.
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Tem patilhas, bóina, cajado, botas grossas de pele, casaco de pêlo de ovelha. E trabalha de sol a sol. “Acordo às 5h ou 6h e só largo os animais no lusco-fusco”, diz, enquanto mete outro pedaço de pão com presunto na boca.
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Tem olhos azuis, por detrás dos óculos, e o telemóvel preso ao cinto de cabedal, porque é pastor, “de maneiras rústicas”, mas gosta “de ser moderno. Pelo menos um bocadinho.”
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Mais vinho, e desta feita presunto sem pão.
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A sua missão é garantir que os porcos engordam o suficiente até à altura da matança. Mas faz um bocadinho mais do que isso: dá “atenção e carinho aos bichos.”
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“Os porcos é como os gatos. Acostumam-se à pessoa”, conta. “E a pessoa acostuma-se a eles, claro. São animais muito curiosos e inteligentes. Se for outra pessoa a ir com eles nem lhe ligam ou até se assustam.”
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Mete mais uma fatia de presunto à boca e continua.
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“E tem que se fazer sempre a mesma volta com eles. Se se habituam à balbúrdia, ninguém dá conta deles!”, gargalha.
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“Mas tenho-lhes muito carinho. Uma pessoa cria os animais de pequenos, depois tem pena de os deixar abalar. Fica-se-lhes com amizade”, confessa.
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- E o presunto, Zé? Sabe que está a comer fatias dos seus amigos?
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“Claro que sei! Conheço o sabor de todos. Só que são tão especiais que não lhes consigo resistir! António, há mais disto?”

1 comentário:

Espalhafato disse...

Epá, este está bem giro! E eu nem curto muito porco! Só boi! LOOL
Apetece-me dizer: "Parabéns, miga" mas vou só deixar um beijo sorridente com mousse de chocolate no canto da boca. =D