segunda-feira, abril 07, 2008

O Poeta beija-tudo. Sebastião da Gama.

Contava-se o ano de 1951. Ele tinha acabado o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa. Era moço novo, de olhos piscos, voz alta e fluente. Poeta. Alegre, engraçado e franco. Na cabeça uma boina, à galega. Na cara, muito normalmente um sorriso. No corpo, uma distração atenta: ao mundo e à beleza; um encantamento profundo com tudo o que o rodeava.

Sebastião Artur Cardoso da Gama dava, naquele ano, aulas na Escola Comercial e Industrial de Estremoz. Era homem muito dado a beijos e a cumprimentos. Essas efusividades acabaram por valer-lhe uma chamada ao gabinete do director: Sebastião ouviu uma valente reprimenda: que o meio era pequeno, que as meninas suas alunas já não eram crianças, que podiam ficar mal vistas, que não era desconfiar da sua seriedade, que sabia, sim senhor, que não era por maldade o que fazia, mas que, por amor de Deus, pusesse termo à beijoquice, que ficava mal, que não era de bom tom, que homem nenhum beijava uma mulher que não fosse a sua. Sebastião, de pé, ouviu até ao fim. Terminadas as palavras do director, chegou-se perto, respondeu-lhe que sim-senhor, rasgou um sorriso, agradeceu, baixou-se e beijou-o na testa.


O poeta faria anos dia 10 de Abril. Leia - e veja - mais, brevemente, aqui.