quarta-feira, outubro 27, 2010

Bolsa Família: uma lata de leite foi muitas vezes tudo o que teve para dar aos filhos

Cláudia nasceu na favela de Paraisópolis, em São Paulo, onde ainda vive. Com o apoio que recebe do Governo compra uma lata de leite. Houve alturas em que era tudo o que tinha.


Cláudia tem 23 anos e é mãe de dois filhos. A casa da família é um quarto com um beliche à esquerda, uma televisão atrás da porta e um fogão ao fundo. Fica perto do centro da favela, logo depois de duas estradas de alcatrão, uma de terra batida e outra de cimento. Cada uma mais estreita do que a outra. Depois há um muro tosco e alto, de betão, que afunila e conduz ao portão enferrujado. A porta da casa dá para um pátio cruzado por cordas com roupa estendida e pontuado com brinquedos de criança e o ladrar de um cão.

Enquanto cozinha, o que também faz para viver, Denis explica que não tem emprego certo e que nas alturas em que está desempregado “a família passa aperto”.

Cláudia faz as contas: “Quando estamos os dois a trabalhar é ótimo. Em média, o meu salário e o dele dá 1 200 reais (524 euros). 250 reais (109 euros) vão para o aluguer da casa, 300 (131 euros) são para despesas com água, luz e gás. Só com um ordenado passamos muito aperto”, diz.

Com Lula da Silva na Presidência, garantem, “a vida mudou bastante”. Se Dilma Rousseff, a candidata apoiada pelo atual presidente, subir ao poder, como esperam, “a vida vai continuar a melhorar”.

Cláudia acha que depois de Lula, “até o emprego ficou mais fácil”: “Como recebo Bolsa Família [o programa de distribuição de rendimentos do Governo, que beneficia hoje quase 13 milhões de famílias brasileiras] pude fazer um curso profissional e recebi logo uma proposta de emprego. Por acaso rejeitei-a porque já trabalhava na União de Moradores”, conta.

A família recebe do Governo 20 reais (9 euros) por mês para ajudar nas despesas com alimentação e escola de Caíque, de 4 anos, e Eduarda, de 2. Visto de fora parece pouco. Visto de dentro, já foi o tudo o que Cláudia teve para dar aos filhos.

“Com esse dinheiro você compra uma lata de leite, mas ainda bem que ganhamos alguma coisa. Quando comecei a receber ainda não estava casada. Só tinha os dois filhos, e quando não estava a trabalhar foi um auxílio, tinha alguma coisa para dar às crianças. Para mim está a valer até hoje. E sempre que recebo o dinheiro tento gastá-lo com os meus filhos”, diz.

Aqui em casa vota-se em Dilma Rousseff por “representar continuidade em relação ao trabalho de Lula da Silva”. Cláudia espera que, subindo ao poder, a agora candidata olhe pelo acesso dos brasileiros mais pobres à Educação Superior e à Saúde.

segunda-feira, outubro 25, 2010

Intervalo breve no Brasil ou Almada e a luta de punho erguido, com tinta

Em Almada, a luta política do PCP ainda passa, a tinta de cor, pelos muros da cidade. Para a oposição, isto é política suja. E há mesmo quem tenha pintado de branco os murais que tinham cor e começado uma outra guerra.

Fotografia de Mário Cruz/agência Lusa

Miguel Casanova, do PCP de Almada, fez as contas: “O partido deve ter 12 ou 13 murais, com entre quatro e cinco metros, pintados em todo o concelho”. As pinturas, acrescentou, são tradição democrática, um direito enunciado na Constituição da República e no regulamento municipal, e uma voz que fala alto, para chegar a todos.

“A pintura de murais é mais uma forma de o PCP mostrar as suas ideias e as suas propostas, de lhes dar visibilidade”, explicou. O dirigente afirmou ainda que “nenhum” dos desenhos é feito em propriedade privada ou em edifícios históricos: “Embelezamos muros públicos e fomentamos a consciência política”, defendeu.

Antes da tinta, contou, há organização e discussão sobre o tema da luta a desenhar. Às vezes os murais são comemorativos, como o desenho de Lenine, pintado ao lado da capela da Ramalha, no Pragal, outras são atuais, e de protesto, de anúncio de luta contra outras batalhas, como o que está pintado a caminho do Monte da Caparica.

Todos os murais do PCP e da JCP na cidade têm sido cobertos por tinta branca.


Em setembro, na Assembleia Municipal de Almada, o deputado Bruno Dias anunciou que o partido ia avançar com um procedimento criminal contra algumas pessoas ligadas à JSD, encontradas a destruir murais comunistas.

A liberdade, afirmou, “é para exercer e para defender, e a lei é para cumprir na defesa dos direitos, liberdades e garantias que a Constituição da República consagra”.

Miguel Casanova troca por miúdos: “Decidimos que restauramos todos os muros que forem pintados de branco e que pintaremos mais um por cada desenho que tenha sido danificado”.

E isso é claro em todas as pinturas feitas agora de fresco, onde o argumento se repete em verso, nas palavras do poeta José Carlos Ary dos Santos:

"E a cada novo assalto
cada escalada fascista
subirá sempre mais alto
a bandeira comunista”.


Isto, dizem os comunistas, “não se trata de guerra, trata-se de defender o que é do partido”.

David Campos, da Juventude Social-democrata, não assume qualquer ligação com a tinta branca por cima das cores comunistas, a que chama, no entanto, “limpeza” e com a qual concorda: “Pintar murais é uma forma vergonhosa de se fazer política”, disse.

“Sujar espaço que é de todos com ideias que são apenas de alguns. É falta de respeito pelos cidadãos”: “Acho que a liberdade e a luta não pertencem a um partido nem a um mês. E a liberdade de um acaba quando começa a liberdade do outro”, argumentou.

Além disso, defendeu, “não se percebe de que forma é que a promoção da Festa do Avante! defende os direitos dos trabalhadores”.

O militante considera-as “moralmente condenáveis” por acreditar que “há outras formas de chegar às pessoas”: “Isto é política fácil”, argumentou, e foi mais longe: “Consideramos que a lei precisa de ser revista neste campo. Vamos levar este desafio à Assembleia da República”.

domingo, outubro 24, 2010

O Brasil da banca de peixe

Bibiane Pinheiro tem uma banca de peixe à beira do rio Pantanal, em Corumbá, Mato Grosso do Sul. Acha que Lula foi bom para a vida dos brasileiros mas está preocupada com os problemas que a natureza tem trazido.



Tem esta banca no Porto Geral, de onde quase se avista a vizinha Bolívia, desde o ano 2000. Só trabalha com peixe fresco, mas vende “do peixe nobre até ao peixe mais simples”.

Os dois mandatos do Presidente Lula, diz, “foram muito bons para o Brasil e para os brasileiros”, mas a vida em Corumbá é dura e a venda de peixe é cada vez mais difícil.

“Há cinco anos atrás havia muita fartura de peixe. De há dois anos para cá tivemos um problema com a natureza e há cada vez menos quantidade. O custo da pesca está muito mais alto. O peixe chega muito caro ao consumidor”, explica.

Ainda assim, acrescenta, nem tudo é novo. “Para nós aqui no Mato Grosso do Sul, que é, como se diz, o fim do mundo, na fronteira com a Bolívia, tudo é mais caro. O óleo é mais caro, a gasolina é mais cara, os alimentos chegam aqui caríssimos. O custo de vida é muito alto”, acrescenta.

Hoje o barbado e a piranha custam dez reais o quilo (4,60 euros), o pintado, a dourada e o pacu, que são peixes nobres, custam 15 (6,90 euros).

Viver do que vende à população de Corumbá, cerca de 100 mil pessoas, é muito difícil: “Também vendemos peixe à população, mas quem consome mais são os turistas, eles é que nos ajudam”, diz.

Lula coordenou um Governo “muito bom para o país”, fez “diminuir muito o custo de vida dos brasileiros” mas o próximo Presidente, defende, “tem que olhar pela segurança e pela saúde do Brasil”.

À espera de que Dilma seja a cabeça e Lula o pescoço

Jacson Garrett da Costa é publicitário. Hoje está à beira do rio Paraguai à espera do barco para ir pescar e fala de um Brasil que recomeçou pelas mãos de um Presidente que “mudou o conceito de falso primeiro mundo”.

O empresário está hospedado na pensão do maior restaurante do à pequena comunidade Porto da Manga, em Corumbá, junto à fronteira com a Bolívia, no Estado do Mato Grosso do Sul.

Até 2007, quando o programa “Luz para todos”, do Governo, permitiu às cerca de 40 famílias aqui residentes terem acesso a energia elétrica, era aqui que estava o único gerador do bairro.

Hoje a calma do curso do rio mantém-se e diz bem com a calma das pessoas que vivem à volta dele, mas é fácil perceber que a vida mudou. Hoje já não se usa lanternas no Porto da Manga.

Agora há sempre água fresca em casa. Também por isso, diz Jacson, “com Lula houve um recomeço”. Talvez não para o seu negócio, “porque a corrupção é muito boa para o meio publicitário”, mas para o Brasil, “que é hoje visto com outros olhos pelo mundo inteiro. Lula pensou no recomeço do Brasil. A história mostrou que as principais propostas dele – combater a fome e olhar para os países emergentes do nível do Brasil – estavam certas. Ele mudou o conceito de falso primeiro mundo”, argumentou.

Jacson sente que Lula percebeu que “primeiro era preciso dar o pão aos brasileiros”: “Acho era preciso combater um problema real no Brasil: a fome, a miséria, que hoje estão a acabar. O avanço é grande nesse campo”, diz.

“Hoje o Brasil já não é só conhecido lá fora pelas bundas das meninas das escolas de samba. Já é conhecido porque é um país confiante e Lula tornou-se uma pessoa respeitada no mundo”.

Gosta de Dilma Rousseff, a candidata que Lula apresentou ao país: “Dilma é um período novo. Acredito que ela é um pouco diferente de Lula, que sempre foi, no contexto local, revolucionário. Diria que Dilma é uma marxista moderna”, afirmou.

O publicitário vê “verdade na imagem da candidata do Partido dos Trabalhadores” e confia no trabalho que ela será capaz de fazer. Tem, no entanto, uma esperança: “Que Dilma seja a cabeça e que Lula seja o pescoço”.

Lula, pai dos pobres, mãe dos banqueiros, fascínio de todos

Ao longo da exuberante avenida Paulista, cartão postal da capital de negócios do país, Lula faz sorrir quem fala dele. O presidente sindicalista deixa um Brasil melhor aos olhos da maioria dos brasileiros, independentemente do tamanho das suas carteiras.

Na rua Augusta, em São Paulo, perpendicular ao brilho dos edifícios imponentes das multinacionais, dos saltos altos e dos fatos irrepreensíveis, Lúcia, 54 anos, fala junto à sua banca de lenços de senhora, gorros e bugigangas.

“Se Lula fosse candidato, votaria nele de novo. Mudou muita coisa no Brasil. Em termos de pobreza, o pobre começou a viver com mais dignidade. Hoje o pobre come melhor”, diz.

Lúcia vive sozinha com 600 a 800 reais por mês (274 a 365 euros). Com isso paga “todas as contas”. Diz que vive com dignidade porque “hoje os preços estão praticamente iguais ao que estavam quando Lula assumiu a presidência, há oito anos”, mas, na verdade, diz que vive “praticamente na mesma”.

Com sotaque baiano diz ainda que “é preciso melhorar a Saúde” mas acredita que “se o próximo presidente do Brasil continuar tudo o que Lula tem vindo a fazer, o Brasil vai ficar bom”.

Mais perto do luxo, do brilho, da exuberância e da velocidade, Márcio Alves, paulistano, 32 anos, agente cultural, acha que o Partido dos Trabalhadores, do Presidente Lula, “está a fazer um bom trabalho no Brasil”.

“Os pobres, no geral, puderam comprar carro, a inflação baixou, tudo deu uma melhorada”, diz. Márcio vive com a mulher e com o filho. Vive bem, diverte-se, vai ao teatro. Diz que é razoável viver em São Paulo com dois mil reais por mês (914 euros).

Acha que o próximo Presidente “devia dar mais oportunidades às pessoas mais humildes, pensar mais nos estudos do povo brasileiro para combater a violência, para deixar o Brasil melhor”.

Dentro de um impecável fato azul-escuro, Cláudio Lima, 54 anos, fuma um cigarro à porta do banco em que trabalha. Não tem dúvidas de que vive num país melhor.

“Podem acusar o Lula de ser assistencialista, mas a redistribuirão de rendimentos melhorou [a vida das pessoas]. Acho que o Brasil melhorou também devido à conjuntura mundial”, diz. Os pobres, diz, vivem melhor agora. Não tem, no entanto, a certeza de isso seja apenas obra de Lula da Silva. Para o bancário, é possível viver-se “razoavelmente” em São Paulo com dez mil reais por mês (4 570 euros).

domingo, outubro 17, 2010

As classes do edifício sem classes não veem um Brasil menos desigual

Astrid e Suzi vivem em São Paulo, no Copan, que o arquiteto Oscar Niemeyer projetou na década de 50 para ser um edifício sem classes. Uma vive no maior apartamento do prédio, outra no menor. Visto daqui, o Brasil não está menos desigual.


Astrid já passou dos 70 anos e vive sozinha no maior apartamento do Copan há mais de 30, com o mesmo conforto: “Tenho três quartos, uma sala, duas casas de banho, cozinha, área de serviço, quarto e casa de banho de empregada. São 216 metros quadrados”, conta.

“Viver num edifício destes é como viver numa cidade do interior. O Copan é uma cidade de 5 mil habitantes. É óbvio que não és amigo de toda a gente, é óbvio que tens problemas, mas há algumas características dos grupos que se formam ao longo do tempo que tornam o Copan muito parecido com uma cidade menor”, acrescenta.

A psicóloga aposentada não acha que a sua vida tenha mudado muito, embora considere que o Brasil mudou. As diferenças, diz, não têm diretamente que ver com a governação do Presidente Lula da Silva. “Acho antes que as mudanças têm que ver com um conjunto de medidas que ocorreram num momento histórico oportuno. E parece-me que muitas delas têm um viés muito importante”, diz.

Para Astrid, não há dúvidas de que é preciso diminuir a pobreza no Brasil mas “isso não se faz dando às pessoas dinheiro a troco de filhos, faz-se com educação ou então cria-se mendigos para o resto da vida”.

Por isso, sustenta, vai votar em José Serra, candidato do Partido da Social Democracia Brasileira, “um homem com formação e com princípios”.

Suzi não passou dos 30 há muito tempo e vive há quatro anos no apartamento mais pequeno do Copan, com o marido e com o filho a cumprir um sonho de adolescente.

“Existe um certo deslumbramento com o Copan, dá um certo estatuto, sim. No meu caso nem há grande razão para isso, que moro num espaço de 26 metros quadrados, mas ainda assim gosto, orgulho-me”, conta.

A professora acha que “dizer que o Brasil está um país menos desigual seria um exagero” porque “não é isso que se vê quando se sai à rua e se olha para a quantidade de gente que não tem onde dormir”.

Com o Governo Lula sentiu “mais estabilidade, mais segurança” porque viu no Presidente “a representação do povão, o fim dos magnatas na política”. Ele foi o Presidente que ela esperava. A sua vida, diz, está mais ou menos como dantes, há meses de mais aperto, outros de menos, mas nada mudou radicalmente.

domingo, outubro 10, 2010

Warley é pirata. A culpa é de Lula da Silva.

Warley Costa está vestido a rigor e tem os olhos pintados de preto. De chapéu na cabeça e espada na mão, é pirata e guia turístico na cidade colonial de Paraty, no Estado do Rio de Janeiro. A culpa, diz, é de Lula da Silva, que o incentivou a estudar.


As visitas guiadas começam na praça de Santa Rita – “um cartão postal de Paraty, construído em 1722 pelos escravos libertos da época” – ou no mar que invade os largos blocos de calçada das ruas levemente onduladas e sem fim ao fundo, sempre que a maré sobe.

“Era também aqui que na época eram comercializados os escravos, o café e o açúcar. O chafariz que tenho ao meu lado era usado pelos escravos para abastecerem as casas de água”, conta.

Warley diz que estar em Paraty é poder fazer uma viagem no tempo. A cidade, garante, “é o conjunto arquitetónico mais bem conservado do país”. Os 30 mil habitantes vivem do turismo e da pesca.

Visto pelos olhos pintados de preto, o Brasil teve em Lula da Silva o seu melhor presidente: “Há menos fome, ninguém apostou na Cultura como Lula e ele deu também às pessoas muitos incentivos para estudarem”, defende.

Warley é artista de rua em Paraty desde 2004 porque o programa governamental de distribuição de rendimento Bolsa Família – que lhe dá 170 reais (78 euros) por mês para ajudar na educação e na alimentação dos dois filhos pequenos – lhe permitiu fazer um curso de teatro gratuito. A vida avança, as pessoas têm mais trabalho, mais formação, dão melhores condições às crianças.

“Tenho 32 anos e dois filhos, um de três anos, outro de dez. Com o dinheiro do Governo compro material escolar para o mais velho, roupa, alguma coisa de que ele precise. Ao mais pequeno compro frutas, legumes para que ele possa ter uma alimentação mais variada”, conta.

Nas eleições presidenciais, Warley vai anular o voto porque Lula não se recandidata e porque “o Brasil não se cura da corrupção”. O artista não encontra uma solução para o problema mas tem uma ideia muito clara sobre a sua origem.

A culpa, diz, é da semente portuguesa, que ficou aqui ao sol: “Na época da colonização portuguesa do Brasil vieram para cá os degredados, os criminosos, a escória. E são essas pessoas que continuam no Governo brasileiro até hoje e roubam o povo”.

sábado, outubro 09, 2010

Eris trabalha numa fazenda e acha que Lula olhou para as duas partes do Brasil

Eris Gomes trabalha “para o patrão” há dez anos, numa fazenda no Pantanal, no Estado do Mato Grosso do Sul. De trator encostado à beira da Estrada Parque, conta que Lula da Silva foi muito bom para os pobres.


O operador de trator esteira diz que não está “muito por dentro da política”, mas considera que ao trabalho de Lula da Silva como Presidente do Brasil “é preciso tirar o chapéu”.

“O Brasil mudou muito. O Lula trabalhou bem. Não puxou só para o lado das classes altas. Foi um Governo que olhou para as duas partes. Foi um plano muito bom para os pobres”, disse.

Aqui, o Presidente fez chegar a energia elétrica, com o programa “Luz para todos”, que beneficiou, de acordo com números oficiais, mais de 11 milhões de brasileiros dos meios rurais.

Agora as coisas são mais fáceis. A vida, diz Eris, corre-lhe bem: “No Pantanal você deita-se e esquece-se do mundo. E o ordenado que ganho dá para viver tranquilo”.

Ganha em média 1200 reais (550 euros), sustenta a mulher e a filha, que estuda em Maracaju, a 500 quilómetros. Com o patrão dá-se bem: “Se o virem dizem que é empregado. É gente boa, come na mesa com você, o que você come ele come”.

Para ele, a classe trabalhadora está bastante contente com o Brasil de hoje. Eris tem televisão, telefone e rádio amador, sente-se confortável, satisfeito. O resto que falta, se falta, é preciso perguntar aos patrões.

quarta-feira, outubro 06, 2010

José António acha que Lula conduziu um Brasil que já estava caminhando

José António Nogueira é português de berço e brasileiro de coração. Está no Brasil desde 1954 e considera que as mudanças dos últimos oito anos não foram obra das mãos de Lula, mas passos de um país que já tinha começado a caminhar.


O português, como lhe chamam os que chegam ao alpendre onde agora está sentado, vive em Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná, junto à fronteira com a Argentina e com o Paraguai. “É uma cidade bonita, com muito movimento, mas também com contrabando e com uma criminalidade mais elevada do que a do Rio de Janeiro”, conta.

Na casa de madeira onde cheira sempre à comida que ele cozinha para vender para fora a quatro reais o prato (1,80 euros) vivem seis pessoas: ele, a mulher, a sogra, o filho, a nora e o neto. Todos dependem do pequeno negócio, que permite à família “viver bem, ter uma vidinha sossegada”, com dois mil reais por mês (915 euros).

Os oito anos do Governo Lula, diz, não vieram mudar muito este cenário. “Comparando com os outros Governos, o de Lula da Silva foi o que mais combateu o tráfico de droga e o contrabando de mercadorias que se fazia a partir do Paraguai. Por isso a cidade já não mexe como mexia”, afirma.

Ainda assim, considera que não se pode dizer que o Brasil tenha melhorado por mérito deste Presidente. “Ele fez um bom Governo. O Brasil desenvolveu muito na agricultura e na agropecuária. Mas é preciso ver que o Lula pegou num país que já estava caminhando”, disse.

José António trabalha 16 horas por dia. Não tem fins-de-semana, feriados nem folgas. Diz-se feliz com a vida que tem, que não é rica mas é boa.

Discorda da política de distribuição de rendimentos do Governo por achar que “não resolve nada e cria um ciclo vicioso”: “Não dê o peixe ao homem, ensine ele a pescar, que ele aprende a se virar”, argumentou.

Para além disso, defendeu, “no Brasil a saúde ainda deixa muito a desejar”. “A minha esposa precisava de um tratamento que custava 25 mil reais (11400 euros) e o Governo não nos ajudou. No entanto, há uns tempos, só para transportarem uma vez o Fernandinho Beira-Mar [um dos maiores traficantes de armas e droga da América Latina, condenado a quase 30 anos de prisão] gastaram 40 mil reais (18 300 euros)”, contou.

Em outubro o português vai votar em José Serra, do Partido da Social Democracia Brasileira, porque “é um homem mais experiente, mais bem preparado e que vai olhar para a saúde dos brasileiros”.

terça-feira, outubro 05, 2010

Lula acendeu a luz no Porto da Manga e agora vê-se televisão depois de jantar

No Porto da Manga, em Corumbá, onde o Brasil se encosta à Bolívia, já não é preciso ir para a cama cedo. O programa “Luz para todos” chegou em 2007 e agora vê-se televisão depois de jantar.


Na margem esquerda do rio Paraguai, sustento da maioria dos homens das cerca de 40 famílias da terra, sente-se a brisa e ouve-se o barulho das balsas que levam homens e carros para o lado de lá. Os animais são muitos e os sons misturam-se.

A vida, ouve-se na mesa do café, na esplanada do restaurante e pelas casas, melhorou depois de ter chegado aqui o “Luz para todos”, um programa do Governo Lula que já levou energia elétrica a mais de 11 milhões de brasileiros dos meios rurais.

Eliane, Adão e Sebastião vivem no Porto da Manga há mais de 20 anos. Vivem do rio, acordam todos os dias às 05:00. Eliane apanha isco para os pescadores, Adão e o tio pilotam barcos de pesca. Antes de 2007 usavam lanternas e iam dormir muito cedo, “às 19:00 já estava tudo sossegado”. Agora, conta Sebastião, “as pessoas ficam a ver televisão depois de jantar, até mais tarde”.

A luz não trouxe só a comodidade de largar a lanterna e o eco da televisão que acompanha esta conversa. Os pescadores da terra são hoje mais independentes. “Antes, o hotel, o único que tinha gerador de eletricidade, comprava-nos o peixe ao preço da chuva. Eles sabiam – e nós também – que se não vendêssemos o peixe, mesmo que barato, perdíamos tudo o que tínhamos pescado”, explicou.

E claro, acrescentou Eliane, “agora pode guardar-se uma fruta, carne ou comida feita no frigorífico, e isso é melhor”. Esta família paga 77 reais (35 euros) de luz por mês.

Eliane recebe 80 reais (36 euros) do Bolsa Família, o programa de distribuição de rendimentos do Governo: “Ajuda qualquer coisinha, mas não dá para nada. Faço umas comprinhas, pago alguma conta… Vamos vivendo”.

Umas casas ao lado, mais perto do rio, o pescador Vítor, 57 anos, “quase todos vividos entre Corumbá e Porto da Manga”, aplaude os oito anos de Governo de Lula da Silva.


“Ele mudou muito o Brasil, foi um bom Presidente. Quem disser que não está a mentir. Mudou o trabalho, a escola, tudo. Apoiou muito as famílias, ajudou muito a pobreza e trabalhou em benefício dos pescadores, que hoje têm direitos”, argumentou. E com a luz, acrescentou, “a vida aqui mudou 100 por cento. Foi uma maravilha passar a ter água fresca em casa”.

sábado, outubro 02, 2010

Ivaneide sustenta três pessoas com 300 euros por mês, chamaram-lhe dores do crescimento

Ivaneide Gonçalves da Silva vive numa casa exígua, sem janelas, na favela de Paraisópolis, em São Paulo. Aqui cria os dois filhos com um ordenado mínimo por mês. Não recebe ajuda do Governo porque é “apenas pobre, não miserável”.


Por cima da cabeça de quem anda pelas ruas da favela de Paraisópolis há um emaranhado de fios elétricos que abastece os 100 mil moradores da comunidade. Nos fios há festa pendurada, fitas verdes e amarelas ao vento. Muito ao fundo há a elegância do bairro de luxo do Morumbi. À volta há barracões, muito barulho, muita vida e muita pressa.

Na casa de Ivaneide, perto do centro, há menos barulho, uma cozinha pequena, um quarto e um ordenado mínimo (300 euros) para três. “Recebi Bolsa Família [programa de distribuição de rendimentos do Governo que beneficia hoje quase 13 milhões de famílias brasileiras] durante mais de seis anos. Começou com 30 reais (14 euros), depois 45 (21 euros), depois 47 (22 euros), depois cortaram”, conta.

Ivaneide acha que o Bolsa Família “não é sequer um programa para quem é pobre, é um programa para quem é miserável”, que assim que a família ganha algum dinheiro deixa de ser apoiada, embora, acrescenta, “tenha a vantagem de permitir fazer formação profissional gratuitamente”.

Os filhos, de oito e 19 anos, estudam em escolas públicas. Ivaneide trabalha na sede da União de Moradores como cozinheira. “Levanto-me cedo. Quando o meu filho está a estudar levanto-me às 05:30 da manhã. Às 06:00 esperamos o autocarro para ele ir para a escola e depois volto para casa, arrumo o que consigo arrumar e às 07:00 já estou no serviço”.

Os dias, diz, são duros mas já se acostumou, gosta de trabalhar. “É cozinhar para bastante gente, fazer café, cuidar da cozinha, manter tudo limpo, e levar os cafés até às salas de reuniões. Depois vou preparar o jantar, ver o que é preciso fazer em casa. Dificilmente folgo, também faço salgados por encomenda para festas”, acrescenta.

Ivaneide acha que o Brasil de Lula é um Brasil “em parte mudado, porque muitas coisas que antes a gente não tinha agora tem; porque mesmo que as pessoas digam que o Bolsa Família é uma esmola, há quem dependa desse dinheiro”.

Lula da Silva, diz, “foi um ótimo Presidente, que fez o Brasil crescer”.

Ivaneide acha ainda que um jornalista que por ali passou antes para ouvir a sua história e saber do Brasil foi injusto. Ela contou-lhe isto, ele escreveu e no título do texto chamou-lhe “Brasil, dores do crescimento”.

sexta-feira, outubro 01, 2010

As maravilhas de Lula e a mesa ainda muitas vezes vazia

Jucilene tem 33 anos, cinco filhos pela mão, um na barriga, “cada um tem um pai”. Olha para o Brasil do cimo do morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. Diz que Lula da Silva, o Presidente sindicalista, melhorou a vida dos pobres mas que a mesa da sua casa continua vazia muitas vezes por mês.

Jucilene tem o cabelo crespo, negro, como a pele, que faz parecer mais viva a t-shirt laranja que veste. Tem um nariz grande, redondo, triste como os olhos, cheios de vergonha.

A família vive numa casa arrumada numa rua estreita, perto do topo do morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. A vista é paradisíaca, de luxo, com encanto de telenovela. A vida nem por isso.

Jucilene está desempregada, ajuda o marido, que é artesão, na pintura das pequenas peças de madeira que reproduzem ícones da cidade – dos arcos da Lapa aos bondinhos – e que depois ele vende pelas ruas aos turistas.

Às vezes, ela toma conta de crianças em casa. Por estes dias próximos das eleições, ele trabalha para um partido em campanha.

Numa casa onde comem sete bocas todos os dias entram em média 300 reais por mês (137 euros), 120 são dados pelo programa de distribuição de rendimentos do Governo, Bolsa Família, que beneficia hoje quase 13 milhões de famílias brasileiras. Com o dinheiro que o Governo dá, Jucilene faz “a única coisa que a gente pode fazer, umas compras, o que dá com o que há”. Compra leite ou fraldas para as crianças.

Com Lula da Silva na Presidência, não tem dúvidas, “a vida melhorou”: “Melhorou bastante, não tenho de que reclamar. É bom porque as coisas não estão tão caras”, diz.

Ainda assim, não há nada que Jucilene consiga pôr a mais na mesa do que há oito anos atrás, a mesa continua vazia muitas vezes por mês.

“O domingo em família é triste. Às vezes não há nada na mesa. Às vezes há um arroz e feijão, não há carne. Para mim o domingo não existe. É mais triste do que um dia de semana, não há trabalho, você tem que ficar dentro de casa… Fica triste”
, conta.

Jucilene desce poucas vezes do morro para ir à cidade. Às vezes pelo Natal, mas nem sempre. O Brasil que vê é o que a vista alcança do cimo do burburinho veloz e desengonçado das ruas da favela onde vivem 70 mil pessoas. E é bom, gosta, não consegue sair.