sábado, outubro 02, 2010

Ivaneide sustenta três pessoas com 300 euros por mês, chamaram-lhe dores do crescimento

Ivaneide Gonçalves da Silva vive numa casa exígua, sem janelas, na favela de Paraisópolis, em São Paulo. Aqui cria os dois filhos com um ordenado mínimo por mês. Não recebe ajuda do Governo porque é “apenas pobre, não miserável”.


Por cima da cabeça de quem anda pelas ruas da favela de Paraisópolis há um emaranhado de fios elétricos que abastece os 100 mil moradores da comunidade. Nos fios há festa pendurada, fitas verdes e amarelas ao vento. Muito ao fundo há a elegância do bairro de luxo do Morumbi. À volta há barracões, muito barulho, muita vida e muita pressa.

Na casa de Ivaneide, perto do centro, há menos barulho, uma cozinha pequena, um quarto e um ordenado mínimo (300 euros) para três. “Recebi Bolsa Família [programa de distribuição de rendimentos do Governo que beneficia hoje quase 13 milhões de famílias brasileiras] durante mais de seis anos. Começou com 30 reais (14 euros), depois 45 (21 euros), depois 47 (22 euros), depois cortaram”, conta.

Ivaneide acha que o Bolsa Família “não é sequer um programa para quem é pobre, é um programa para quem é miserável”, que assim que a família ganha algum dinheiro deixa de ser apoiada, embora, acrescenta, “tenha a vantagem de permitir fazer formação profissional gratuitamente”.

Os filhos, de oito e 19 anos, estudam em escolas públicas. Ivaneide trabalha na sede da União de Moradores como cozinheira. “Levanto-me cedo. Quando o meu filho está a estudar levanto-me às 05:30 da manhã. Às 06:00 esperamos o autocarro para ele ir para a escola e depois volto para casa, arrumo o que consigo arrumar e às 07:00 já estou no serviço”.

Os dias, diz, são duros mas já se acostumou, gosta de trabalhar. “É cozinhar para bastante gente, fazer café, cuidar da cozinha, manter tudo limpo, e levar os cafés até às salas de reuniões. Depois vou preparar o jantar, ver o que é preciso fazer em casa. Dificilmente folgo, também faço salgados por encomenda para festas”, acrescenta.

Ivaneide acha que o Brasil de Lula é um Brasil “em parte mudado, porque muitas coisas que antes a gente não tinha agora tem; porque mesmo que as pessoas digam que o Bolsa Família é uma esmola, há quem dependa desse dinheiro”.

Lula da Silva, diz, “foi um ótimo Presidente, que fez o Brasil crescer”.

Ivaneide acha ainda que um jornalista que por ali passou antes para ouvir a sua história e saber do Brasil foi injusto. Ela contou-lhe isto, ele escreveu e no título do texto chamou-lhe “Brasil, dores do crescimento”.

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