segunda-feira, outubro 25, 2010

Intervalo breve no Brasil ou Almada e a luta de punho erguido, com tinta

Em Almada, a luta política do PCP ainda passa, a tinta de cor, pelos muros da cidade. Para a oposição, isto é política suja. E há mesmo quem tenha pintado de branco os murais que tinham cor e começado uma outra guerra.

Fotografia de Mário Cruz/agência Lusa

Miguel Casanova, do PCP de Almada, fez as contas: “O partido deve ter 12 ou 13 murais, com entre quatro e cinco metros, pintados em todo o concelho”. As pinturas, acrescentou, são tradição democrática, um direito enunciado na Constituição da República e no regulamento municipal, e uma voz que fala alto, para chegar a todos.

“A pintura de murais é mais uma forma de o PCP mostrar as suas ideias e as suas propostas, de lhes dar visibilidade”, explicou. O dirigente afirmou ainda que “nenhum” dos desenhos é feito em propriedade privada ou em edifícios históricos: “Embelezamos muros públicos e fomentamos a consciência política”, defendeu.

Antes da tinta, contou, há organização e discussão sobre o tema da luta a desenhar. Às vezes os murais são comemorativos, como o desenho de Lenine, pintado ao lado da capela da Ramalha, no Pragal, outras são atuais, e de protesto, de anúncio de luta contra outras batalhas, como o que está pintado a caminho do Monte da Caparica.

Todos os murais do PCP e da JCP na cidade têm sido cobertos por tinta branca.


Em setembro, na Assembleia Municipal de Almada, o deputado Bruno Dias anunciou que o partido ia avançar com um procedimento criminal contra algumas pessoas ligadas à JSD, encontradas a destruir murais comunistas.

A liberdade, afirmou, “é para exercer e para defender, e a lei é para cumprir na defesa dos direitos, liberdades e garantias que a Constituição da República consagra”.

Miguel Casanova troca por miúdos: “Decidimos que restauramos todos os muros que forem pintados de branco e que pintaremos mais um por cada desenho que tenha sido danificado”.

E isso é claro em todas as pinturas feitas agora de fresco, onde o argumento se repete em verso, nas palavras do poeta José Carlos Ary dos Santos:

"E a cada novo assalto
cada escalada fascista
subirá sempre mais alto
a bandeira comunista”.


Isto, dizem os comunistas, “não se trata de guerra, trata-se de defender o que é do partido”.

David Campos, da Juventude Social-democrata, não assume qualquer ligação com a tinta branca por cima das cores comunistas, a que chama, no entanto, “limpeza” e com a qual concorda: “Pintar murais é uma forma vergonhosa de se fazer política”, disse.

“Sujar espaço que é de todos com ideias que são apenas de alguns. É falta de respeito pelos cidadãos”: “Acho que a liberdade e a luta não pertencem a um partido nem a um mês. E a liberdade de um acaba quando começa a liberdade do outro”, argumentou.

Além disso, defendeu, “não se percebe de que forma é que a promoção da Festa do Avante! defende os direitos dos trabalhadores”.

O militante considera-as “moralmente condenáveis” por acreditar que “há outras formas de chegar às pessoas”: “Isto é política fácil”, argumentou, e foi mais longe: “Consideramos que a lei precisa de ser revista neste campo. Vamos levar este desafio à Assembleia da República”.

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