tag:blogger.com,1999:blog-103461932024-03-13T16:28:06.225+02:00Escritos.Unknownnoreply@blogger.comBlogger125125tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-52999248817111789762011-11-26T14:44:00.001+02:002011-11-26T14:45:46.934+02:00Estas histórias - e outras pelo caminho - vão acontecer noutra janela.<span style="font-size:180%;"><a href="http://joanacarvalhofernandes.wordpress.com/">Aqui</a>.</span><br /><br />Até já.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-65162575372255470292011-04-10T12:51:00.002+02:002011-04-10T12:56:47.621+02:00“Le Pen não mete medo a ninguém”<div style="text-align: justify; font-style: italic;"><span style="font-size:130%;">Ibraim Silá, 27 anos, filho de senegaleses, estudou contabilidade mas é taxista. Cresceu em Paris “com a impressão de ser um peso para a França” e considera que Marine Le Pen “tem que perceber que vai precisar sempre dos imigrantes”. </span></div><p style="text-align: right;"><span style="font-size: 78%;">[Para a agência Lusa]</span></p><p style="text-align: justify;"> O jovem ao volante de um táxi preto, luxuoso e perfumado, <span style="font-style: italic;">“mas o mesmo preço do que os outros”</span>, conta à agência Lusa que chegou aqui <span style="font-style: italic;">“depois de ter decidido tomar o seu destino em mãos”</span>, porque<span style="font-style: italic;"> “em França a discriminação é um facto”</span>. </p><p style="text-align: justify;"> Estudou contabilidade mas <span style="font-style: italic;">“as origens”</span> dificultaram-lhe o caminho para <span style="font-style: italic;">“alcançar um estatuto, chegar a um determinado nível, conseguir um emprego na área”</span>.</p><p style="text-align: justify;"> <span style="font-style: italic;font-size:130%;" >“É simples. Se um se chama Pierre e o outro Ibrahim escolhe-se o branco”</span>, ilustrou.</p><p style="text-align: justify;">Discorda de todas as ideias do partido da extrema-direita francesa, a Frente Nacional (FN), que tem vindo a subir nas intenções de voto dos franceses. </p><p style="text-align: justify;"> <span style="font-style: italic;font-size:130%;" >“Crescemos todos com a imagem de que eles não gostam dos imigrantes, querem que saiamos, <span style="font-weight: bold;">pensam que somos um peso para a França</span>, um peso para a União Europeia. <span style="font-weight: bold;">Temos a impressão de que somos diferentes deles</span>”</span>, afirmou.</p><p style="text-align: justify;"> <span style="font-style: italic;font-size:130%;" >“Acho triste que neste mundo existam ainda pessoas com este género de pensamentos. É lamentável que em 2011 ainda exista toda esta discriminação, que possamos ainda falar de racismo, que possamos ainda falar de cor”</span>, argumenta.</p><p style="text-align: justify;"> <span style="font-size:130%;">A resposta a isto, diz, <span style="font-style: italic;">“é trabalhar, é conseguir”</span>. </span>Não se considera <span style="font-style: italic;">“um exemplo típico” </span>porque é motorista de táxi mas diz ter orgulho naquilo que alcançou. <span style="font-style: italic;">“Trabalho em França, ganho o meu dinheiro em França, pago os meus impostos em França”,</span> diz. I<span style="font-size:130%;">braim trabalha 11 horas por dia, sete dias por semana. Ganha entre mil e 1500 euros por mês. </span></p><p style="text-align: justify;"> Considera que a líder da FN, Marine Le Pen, <span style="font-style: italic;">“tem que perceber que a França precisou – e vai precisar sempre – dos seus imigrantes”: “Sentir a humilhação a que [os discursos da FN] nos submetem magoa”</span>, diz. </p><p style="text-align: justify;"> <span style="font-size:130%;">Ainda assim, e apesar da crescente popularidade da líder, cujas sondagens mostram cada vez mais próxima de passar à segunda volta das eleições presidenciais de 2012, Ibraim lembra que <span style="font-style: italic;">“o caminho da integração se fez pouco a pouco” </span>e garante que <span style="font-size:180%;">Marine Le Pen <span style="font-style: italic;">“não mete medo a ninguém”</span>. </span></span></p>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-69450082891250364622011-04-09T13:17:00.004+02:002011-04-09T13:27:16.979+02:00Manuel Domingues serve "specialités portugaises" aos Le Pen quase todos os dias<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >Manuel Domingues é há 22 anos proprietário do restaurante Chez Tonton, que fica na rua da sede da Frente Nacional, em Nanterre, Paris, e põe “specialités portugaises” na mesa dos Le Pen “quase todos os dias”. </span><br /></div><span style="font-style: italic;font-size:130%;" ><br /></span><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;">[Para a agência Lusa]<br /><br /></span></div>Rue des Suisses, Nanterre. A meio da longa reta. A <span style="font-size:130%;">Chez Tonton</span> tem uma fachada pequena, com linhas direitas, duas janelas grandes e um toldo vermelho. Lá dentro cheira, ao final da tarde, a vinho e a cigarros. <span style="font-size:130%;">Joga-se às cartas. Ouve-se televisão em português. </span><br /><br />Aqui <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“quase todos os clientes – ou pelo menos 95 por cento dos clientes – são apoiantes da Frente Nacional (FN) [partido da extrema-direita francesa]”</span></span>, disse à agência Lusa o homem que vai dar corpo a esta história. <br /><br /><span style="font-size:130%;">Manuel Domingues é natural de Arcos de Valdevez e está em França há 35 anos. É militante da FN, <span style="font-style: italic;">“admirador e amigo” </span>de Jean-Marie Le Pen, líder histórico do partido, e de Marine Le Pen, filha do líder, eleita presidente da FN em janeiro deste ano. </span><span style="font-style: italic;">“Fiz muitos militantes. Clientes que vieram aqui, que me pediram. Já filiei mais de 200 ou 300 pessoas. Portugueses, franceses, espanhóis”</span>, contou para dizer logo a seguir que <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“a casa não é muito grande, mas é cheia de riqueza e de carinho para toda a gente, é uma maneira de reagir”</span></span>. <br /><br /><span style="font-size:130%;">Sobre imigração, </span>bandeira forte do partido em que milita, o português esclarece que <span style="font-size:130%;">também ele, imigrante, se opõe aos <span style="font-style: italic;">“lambões que não querem trabalhar”</span>. </span><br /><br /><span style="font-style: italic;">“Acho que a FN pensa muito bem dos imigrantes. Todos os que trabalham merecem respeito mas aqueles que não trabalham, que só querem viver da assistência social, já começam a cheirar mal. É pô-los a trabalhar, ou então que vão lá para as Áfricas ou para as vidas deles”</span>, defendeu. É por isso que a FN conta com o seu voto e com a sua militância. <span style="font-size:130%;">O resto é coração. </span><br /><br />Depois das escadas exíguas e íngremes que levam ao primeiro andar do restaurante português há uma sala <span style="font-style: italic;"> “unicamente reservada para a amizade com Jean-Marie Le Pen, com Marine Le Pen, e com todos os que os acompanhem”</span>. <br /><br />Ao centro há uma mesa corrida, posta, pronta. Pelas paredes há <span style="font-style: italic;">“souvenirs”</span> de episódios da história do partido que se cruzaram com a vida de Manuel Domingues: uma fotografia com o histórico dirigente da FN, autografada por ele; um poster com o retrato “da menina Marine, pendurado em frente ao lugar onde ela se senta”; e outras imagens de outros líderes do partido. <br /><br />Manuel Domingues tem muitas mais fotografias nas mãos. Nesta mesa <span style="font-size:130%;">“<span style="font-style: italic;">sentam-se pessoas muito simples, que não fazem pedidos especiais, que não têm complicações nenhumas na comida nem na bebida”</span>, que <span style="font-style: italic;">“comem o que há”</span>. Pai e filha. </span><span style="font-style: italic;">“Se eu tenho comida portuguesa comem comida portuguesa todos os dias”</span>, conta. E conta também que <span style="font-size:130%;">às vezes é sopa, às vezes moelas, às vezes feijoada. </span><br /><br />Para Manuel Domingues, o partido ficará bem sob a liderança da herdeira e França terá muita sorte se ela for eleita Presidente da República: <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Porque é uma mulher de respeito, uma mulher aberta, uma mulher que não tem maldade nenhuma, e uma mulher que sabe aquilo que diz, e quando ela diz qualquer coisa é realmente verdade”</span></span>. França terá sorte em tê-la como Presidente também porque “esta é uma mulher simples”. <span style="font-size:180%;">Na véspera, <span style="font-style: italic;">“jantou nesta sala bife com salada e moelas”</span>. </span><br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-22484069286710895012011-03-19T17:45:00.004+02:002011-03-26T17:07:23.362+02:00A cantiga, “uma arma de pontaria”<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >A história do Partido Comunista Português na música, e da música que durante 90 anos foi cantando o partido e os seus ideais, não é linear, não é consensual, mas é uma história que pode ser trauteada. </span><br /><br />E antes da história, uma ressalva, que é contexto: <span style="font-style: italic;">“Não é possível isolar enquanto expressão cultural a música de um conjunto de expressões mais variado e muito vasto, onde a influência do partido, desde o cinema até à literatura, nalguns aspetos terá até sido superior”</span>, lembra o militante comunista Ruben de Carvalho. <br /><br /><span style="font-size:130%;">A música, por depender mais, <span style="font-style: italic;">“quer do domínio do capital, quer do domínio da indústria, e dos meios de comunicação, era mais controlada pelo fascismo”</span>. </span><br /><br />Posto isto <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“no cenário de 90 anos que modificaram completamente a música”</span></span>, partimos dos anos de 1920, quando Portugal já ouvia cantar a Internacional comunista. Neste primeiro período de vida do partido, fundado em 1921, <span style="font-style: italic;">“o universo sonoro dos militantes é o popular, por um lado, e a canção revolucionária, por outro”</span>, que chegava primeiro de França, depois da Espanha. <br /><br />E popular aqui é o fado, que, lembra o investigador João Madeira, do Instituto de História Contemporânea,<span style="font-style: italic;"> “corresponde, até ao final dos anos 1930, a um fado musicalmente pobre, com letras ajustadas à propaganda”</span>: <span style="font-style: italic;">“Este fado é o fado da propaganda republicana, é o fado dos anarquistas, um veículo de política através da cultura”,</span> diz. <br /><br />E é o mesmo fado que o regime de Salazar, pelas mãos dos modernistas como António Ferro, apropria para dar som ao fascismo: <span style="font-style: italic;">“Os modernistas têm uma perceção muito clara da capacidade mobilizadora que esta expressão de música popular urbana pode ter e utilizam-na”</span>, explica Ruben de Carvalho. <br /><br /><span style="font-style: italic;">“Nos anos de 1940 entramos num novo período. O partido é objeto da sua reorganização no princípio da década, e uma das frentes onde atua largamente é a frente cultural”</span>, acrescenta. <br /><br />Aqui, destaca, é fundamental o papel de Fernando Lopes Graça: <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Sendo um militante comunista, é um homem que se empenha politicamente e que tem o desejo de fazer da música um fator de intervenção na atividade política; é um homem musicalmente muito influenciado pelas escolas europeias, um defensor da música tradicional e rural, de composição anónima, transmissão oral; e utiliza a música como elemento de intervenção em termos corais”</span></span>. <br /><br />Até aos anos de 1960 <span style="font-style: italic;">“a influência do partido nas associações de estudantes torna-se determinante”</span>. A contestação ao regime agudiza-se, a sociedade é outra, lembra João Madeira: <span style="font-style: italic;font-size:130%;" >“Dão-se nesta época grandes transformações na sociedade, as universidades recebem muitos estudantes, o tradicional fado de Coimbra transforma-se numa nova canção, musicalmente mais rica, onde o fator de intervenção é muito forte”</span>. <br /><br /><span style="font-size:130%;">É tempo dos acordes de Zeca Afonso, de Luís Cília, de José Mário Branco, de Adriano Correia de Oliveira.</span> E é, acrescenta Ruben de Carvalho, <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“o tempo do Zip Zip, onde a canção de intervenção ganha um estatuto e uma capacidade de amplificação que ela nunca tinha tido, e o tempo do festival da Eurovisão”</span></span>. <br /><br />E depois, vai a década de 1970 quase a meio, é tempo de revolução, “<span style="font-style: italic;">que começa com música, como em mais nenhuma parte do mundo”</span>. <span style="font-style: italic;">“Grândola, vila morena”</span>, canta o Zeca. <span style="font-style: italic;">“E depois do adeus”</span>, canta Paulo de Carvalho. <br /><br /><span style="font-size:180%;">Aqui, é claro, <span style="font-style: italic;">“não há nenhuma influência direta do partido”</span>. Há apenas <span style="font-style: italic;">“a cantiga, arma de pontaria”</span>, que o Grupo de Ação Cultural há-de de cantar pelo país durante o ano quente de 1975. </span> </div>Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-86850814147255245752011-03-19T17:29:00.002+02:002011-03-19T17:40:38.025+02:00O comunista a quem a PIDE deu um presente<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: right;"><span style="font-size:85%;">[Texto escrito a propósito dos 90 anos do PCP] </span><br /></div><br /><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >Aurélio Santos foi preso pela polícia política em 1953, no dia em que fazia 23 anos. Um “presente do regime salazarista”, que lhe abriu as portas do partido que havia ser o seu o resto da sua vida. </span><br /><br />A história do rapaz de 23 anos que a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) prendeu em 1953 chega a 2011 com um homem de 80 anos a sorrir e a citar Pablo Neruda: <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Confesso que vivi. E vivi muito porque participei nesta contribuição para que o mundo se alterasse e a vida se alterasse no meu país”</span></span>, diz. <br /><br />Aurélio Santos é militante do Partido Comunista Português (PCP) desde 1957. Ocupou diversos cargos de direção, foi membro do comité central durante quase quarenta anos. O partido faz tanto parte da sua existência como ele mesmo. <br /><br />A história deste encontro é simples: No início da década de 1950 era ativista e dirigente do Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil. <span style="font-size:130%;">Foi preso. Até aí, nunca tinha tido qualquer contacto com o PCP. </span><br /><br /><span style="font-style: italic;">“Quando acabou o meu isolamento enviaram-me para uma cela em que estavam alguns dos comunistas que eu mais estimo, como o Carlos Costa ou o Francisco Miguel. Foi na prisão que comecei a conhecer os comunistas e a ter contacto com eles. Devo portanto essa oportunidade ao presente de aniversário que a PIDE me deu”</span>, conta. <br /><br /><span style="font-size:130%;">Inscreveu-se no PCP já depois de ter saído da prisão. Em 1957 passou à clandestinidade. </span><span style="font-style: italic;">“Continuava a exercer atividade política e com a vigilância que a PIDE tinha sobre o conjunto da situação portuguesa era muito difícil ter essa atividade e não estar em risco de prisão”</span>. <br /><br />Os pais haviam de chegar quinze dias depois de Moçambique, mas <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“a passagem à clandestinidade tinha que ser naquele dia, não podia esperar mais”</span>. </span><br /><br />Eles <span style="font-style: italic;"><span style="font-size:130%;">“saíram do barco, estavam à minha espera e eu não estava lá”</span>,</span> recorda. Depois o silêncio até abril de 1974. <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Não era possível haver um contacto com a família porque isso dava uma série de pistas à polícia”</span></span>. O pai morreu antes do abraço, a mãe abraçou-o pelos dois, mesmo <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“sem compreender as necessidades de uma atividade clandestina”</span></span>. <br /><br />À distância de décadas, Aurélio Santos diz que a sua história <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“não foi nada, comparada com aquilo que algumas pessoas sofreram”</span>. Conta <span style="font-style: italic;">“apenas meia dúzia da bofetões”</span>.</span> E sublinha sempre que valeu a pena. <br /><br />E depois conta abril: <span style="font-size:180%;"><span style="font-style: italic;">“O 25 de abril foi o grande acontecimento da minha vida, além da prisão e dos primeiros contactos com o movimento comunista. Foi para mim uma revelação de um novo mundo, a possibilidade de intervir mais diretamente na criação dessas novas condições para o meu país e para o mundo em geral”</span></span>, diz. <br /><br />Recebeu a notícia do golpe dos capitães na manhã de dia 25, era diretor da rádio do partido desde 1962, a Portugal Livre. <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Foi quando nos apercebemos de que os acontecimentos estavam a ser transmitidos em direto, sem censura, que tivemos a convicção unânime de que o regime ia cair”</span></span>.<br /><br />Sentado na mesma cadeira vermelha do início desta história, Aurélio Santos olha para os jovens que têm hoje a idade que ele tinha quando foi preso, e que ele considera que <span style="font-style: italic;">“podem mais”</span>.<br /><br />Rejeita o cliché da <span style="font-style: italic;">“geração à rasca” </span>e argumenta: <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Há hoje muitos mais jovens em condições de darem uma grande contribuição para o desenvolvimento do país do que nos anos 1950. Cada geração tem a sua forma de intervir, tem a sua mentalidade, e a confiança que é necessário que eles tenham em si próprios também vem da confiança que temos neles”</span></span>. </div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-81683815147825923312011-03-17T18:22:00.004+02:002011-03-17T18:42:37.851+02:00No bairro da Jamaica há mais de 800 pessoas à espera três para o tango<div style="text-align: justify;"><span style="font-size:130%;">O bairro clandestino da Jamaica, no Seixal, é há 20 anos um problema por resolver. Hoje vivem aqui mais de 800 pessoas à espera de três para dançar o tango. É preciso um acordo entre a câmara (CDU), o Governo e o proprietário.</span><br /><br />A história de Maria Teresa Vieira, 61 anos, ajuda a contar a história do bairro: “<span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">Toda a minha vida foi ocupar casas, para aqui vim há vinte anos. Fui das primeiras a ocupar. Vivo num apartamento na torre maior”</span></span>. <span style="font-size:130%;">Sete andares de tijolo e cimento à mostra, envoltos numa instalação elétrica precária, rodeados por poças de esgotos. </span><br /><br />Como esta torre há mais. Mães e avós como Maria Teresa Viera também. Mãe de quatro filhos, três presos, avó de duas netas menores, a gerir <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“uma pensão de 70 euros mensais, mais 40 euros que o pai da mais pequena traz todas as semanas”</span></span>. Na casa desta mulher, e nas outras do bairro, garante, <span style="font-size:130%;">come-se <span style="font-style: italic;">“sempre o mesmo: frango guisado, que tem que dar para o almoço e para o jantar, e sopa, que dá para três dias”</span>. Há ratos em casa. </span><br /><br />Os cerca de cinco hectares de terreno foram abandonados pelo proprietário no final dos anos 1980. Os prédios de hoje são os mesmos daquela altura, mas com famílias dentro. O banco executou uma hipoteca, o problema foi vendido em hasta pública à empresa Urbangol. <span style="font-size:130%;">A ocupação ilegal foi feita nos anos 1990. </span><br /><br />Depois disso, o bairro tem sido um problema por resolver. O<span style="font-size:130%;"> espaço é um retângulo, ao fundo há um muro alto a delimitar. Os esgotos desembocam nas fundações dos prédios e estão no cheiro do bairro todo. No pátio para onde estão viradas as casas há um parque infantil queimado pelo sol e praticamente destruído.<br /></span><br />O abastecimento de água e eletricidade é clandestino, ninguém paga contas. Contam-se dezenas de antenas parabólicas entre os tijolos. <span style="font-size:130%;">Na perspetiva da autarquia, a solução do bairro é<span style="font-style: italic;"> ”demolir”</span> e <span style="font-style: italic;">“realojar integrando”</span>, e o desejo é que isso aconteça até 2013.</span> A vereadora da câmara para a Ação Social, Corália Loureiro, afirmou, durante uma visita ao bairro, que o espaço <span style="font-style: italic;">“terá uma solução”</span>: <span style="font-style: italic;">“Mas é claro que a solução não pode passar só pela câmara municipal. Assumimos uma parte, a outra parte terá que ser o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IRHU) e o proprietário, que é quem tem aqui a responsabilidade maior”. </span><br /><br />A autarca acrescentou que <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“estão a ser feitos esforços”</span></span>, que <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“há um plano de pormenor aprovado para o local”</span></span>, e que “há uma reunião pedida ao IHRU, que já se mostrou disponível para ajudar a resolver a questão”. <br /><br />Corália Loureiro disse ainda aos jornalistas que, ao longo dos anos, e na medida do possível, <span style="font-style: italic;">“todas as pessoas” </span>abrangidas por planos de realojamento em vigor foram realojadas. Hoje, defendeu, <span style="font-style: italic;">“falta uma linha de apoio, de financiamento, da parte do Governo para que esta situação, e outras como esta, aqui e no país, possam ser resolvidas”. </span><br /><br /><span style="font-size:130%;">Pelo bairro, as vozes que se ouvem são de descontentamento. A população diz que já ouviu <span style="font-style: italic;">“muitas datas” </span>e <span style="font-style: italic;">“muitas promessas”. </span></span><br /><br />Em <span style="font-size:130%;"> 2004 </span>a <span style="font-size:130%;">câmara </span>assinou um <span style="font-size:130%;">protocolo com a empresa proprietária dos terrenos </span>em que se previa a demolição das torres e o realojamento dos moradores no ano seguinte. <span style="font-size:130%;">Esperaram</span>. Nada. Em <span style="font-size:130%;">2009 </span>foi aprovado o <span style="font-size:130%;">plano de pormenor</span> para o local. <span style="font-size:130%;">Esperaram</span>. <span style="font-size:130%;">Nada</span>. <span style="font-weight: bold;font-size:180%;" >A vereadora diz que espera ver a situação resolvida até 2013. Os moradores esperam. Ao menos há televisão por cabo. </span></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-69157932112680593792011-02-21T20:51:00.003+02:002011-02-21T21:33:57.355+02:00Kadhafi, o tirano gabiru<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/-zamWfhwDbxs/TWK9MDfjV_I/AAAAAAAABnQ/Pr9HXLZHXa8/s1600/jpgImage.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 260px;" src="http://4.bp.blogspot.com/-zamWfhwDbxs/TWK9MDfjV_I/AAAAAAAABnQ/Pr9HXLZHXa8/s400/jpgImage.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5576227303431821298" border="0" /></a><p style="margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><span style="font-size:78%;">© Chappatte in “International Herald Tribune”</span></p><p style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size:85%;"><span lang="pt-PT">[Coisa da gaveta. Kadhafi esteve em Lisboa em dezembro de 2007, na Cimeira União Europeia-África. Este texto foi escrito nessa altura. É óbvio por que me veio agora à memória. Os ajustes foram pontuais.]</span></span></p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span lang="pt-PT"><span style="font-size:130%;">Chegou com caracóis no cabelo. </span>Os mesmos caracóis que levava, embora talvez com menos estilo e mais rebeldia, quando, em 1969, com 27 anos, mandou da cadeira abaixo o rei. Os mesmos caracóis com que disse depois que não ao comunismo, que não ao capitalismo. Os mesmos com que criou a Jamahiriya, coisa das massas, para depois instaurar o Congresso Nacional do Povo, comités populares e comités revolucionários. </span> </p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span lang="pt-PT">É o senhor da Líbia e, dizem línguas más,<span style="font-size:130%;"> um <span style="font-style: italic;">outsider</span> com jeitos de vedeta.</span></span></p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span lang="pt-PT">Muammar Al Kadhafi foi, durante pouco mais de uma semana, <span style="font-size:130%;">o senhor da tenda</span>. Dizem as mesmas línguas das linhas acima que, com o que trouxe na bagagem, deixou a Líbia vazia. </span> </p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span style="font-size:130%;">Porque é sábio o déspota, e porque Portugal ainda tem memória de como se mima um ditador, </span><span lang="pt-PT" style="font-size:130%;">Kadhafi</span><span style="font-size:130%;"> deu de si ao povo</span> numa palestra na reitoria da Universidade de Lisboa, depois de trinta minutos de atraso. </p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY">A entrada foi igual à saída: <span style="font-size:130%;">o sábio apertadinho em segurança e o povo em apoteose.</span> </p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span lang="pt-PT" style="font-size:130%;">O <span style="font-style: italic;">Coronel outsider</span>, em estrangeiro, ou o <span style="font-style: italic;">tirano gabiru</span>, em português, veio espalhar magia com os seus saberes: o que lhe saiu da boca e o que trouxe encadernado no Livro Verde, que editou em setembro de 1976 e trouxe para oferecer. </span> </p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span lang="pt-PT">Vendo a coisa por atacado, é isto: <span style="font-style: italic;font-size:130%;" >«Os parlamentos foram engolidos, a democracia está deturpada e não se respeita a vontade dos povos»</span>. Vendo a coisa mais de perto, o tirano pôs nas letras de capa verde </span>respostas para <span style="font-style: italic;">«o problema da democracia»</span> e para o <span style="font-style: italic;">«problema económico». </span></p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span lang="pt-PT">Muammar Al Kadhafi diz, do alto da sua roupa colorida, com traços de alta costura, que os políticos nada podem resolver. Acredita, por isso, que <span style="font-size:130%;">é preciso acabar com os parlamentos, desistir das eleições, dar o poder ao povo e deixá-lo defender-se. </span></span> </p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span lang="pt-PT"><span style="font-size:130%;">A democracia é uma injustiça</span> porque a decisão cai depois dos 50 por cento, e isso pode querer dizer que há 49 por cento de pessoas descontentes. É por isso – e por nenhuma outra razão – que o gabiru que é tirano lidera, sem oposição, um governo totalitário sem sinais de decência.</span></p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY">Pelo mundo tem aconchego. Que é como quem diz que <span style="font-size:130%;">o dinheiro do petróleo não traz democracia, mas amansa o desconforto diplomático do sufoco das liberdades.</span></p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span lang="pt-PT"><span style="font-style: italic;">«Uns, com a desilusão, batem com a cabeça nas paredes, outros agarram num avião e fazem um atentado. Condenamos estes actos, mas não podemos dizer-lhes para não os fazerem»,</span> disse, a propósito dos atentados de 11 de setembro.</span></p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span lang="pt-PT">Este <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">«político astuto e fazedor de maldades»,</span></span> como lhe chama a BBC, defende que é preciso conversar com os terroristas para perceber as suas motivações. Para o Coronel, os problemas não se resolvem com uma resposta militar ou com um julgamento.</span></p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span lang="pt-PT">Kadhafi diz ainda que <span style="font-size:130%;">à ONU faltam procedimentos democráticos: </span><span style="font-style: italic;">«Existem duzentos países na Assembleia-Geral, apenas cinco são membros permanentes do Conselho de Segurança. Isto leva à desilusão e a reacções contrárias. <span style="font-size:130%;">Tirar a riqueza leva a reacções contrárias. Desprezar os outros leva a reacções contrárias</span>»</span>, repetiu.</span></p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span style="font-style: italic;">«Atualmente, é uma dúzia de pessoas que decide o futuro do mundo. Uns reagem por palavras, outros usam kamikazes»</span>, acrescentou.</p> <p style="margin-bottom: 0cm;" align="JUSTIFY"><span lang="pt-PT" style="font-size:130%;">De novo a apoteose cá fora e Muammar Al Kadhafi num aperto de segurança. <span style="font-size:180%;">No cabelo, os caracóis do início desta história; nos olhos que se imaginavam por detrás dos óculos escuros, um brilho misto, de quem desconfia da NATO mas mantém um carinho especial pela princesa Diana. </span></span> </p> <p style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size:85%;"><span lang="pt-PT">[No dia 15 de fevereiro eclodiu uma revolta popular na Líbia, em protesto contra o regime de Kadhafi. O povo pede o fim do regime. Diz que o peixe morre pela boca.]</span></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-33990317908582385852011-01-07T12:10:00.004+02:002011-01-07T12:30:18.271+02:00Malangatana inédito, erótico e a preto e branco, na Casa da Cerca, Almada<span style="font-style: italic;font-size:130%;" >A galeria do pátio da Casa da Cerca, em Almada, acolhe até dia 23 uma série de 15 desenhos do pintor moçambicano Malangatana, falecido na quarta-feira. Desenhos inéditos, eróticos e a preto e branco.</span><br /><div style="text-align: justify;"><br /><a href="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TSbo4VlaNKI/AAAAAAAABnA/IS3S6tAanzU/s1600/malangatana.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 307px; height: 400px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TSbo4VlaNKI/AAAAAAAABnA/IS3S6tAanzU/s400/malangatana.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5559386844599825570" border="0" /></a><br />A exposição <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Novos Sonhos a Preto a Preto e Branco”</span></span> inclui também seis pinturas sobre pedra mármore, mostradas apenas duas vezes em Portugal. Para a diretora do Centro de Arte Contemporânea, Ana Isabel Ribeiro, o conjunto das obras expostas <span style="font-style: italic;">“vai ao encontro de uma preocupação que sustenta todo o trabalho de autor, que é uma <span style="font-size:130%;">fusão entre a realidade e a ficção, um trabalho muito marcado pela força de agregação das pessoas</span>”</span>.<br /><br />Nos desenhos, Malangatana visita o quarto do costume mas deixa a cor do lado de fora da porta: <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Apesar de revermos erotismo nos traços do pintor, em desenhos que prosseguem a genealogia do seu léxico artístico e visual, a exuberância da cor ao serviço da forma, a que nos habituámos, não está presente”</span></span>.<br /><br />Ainda assim, acrescentou, estão lá os <span style="font-style: italic;">“traços lânguidos, de diferentes espessuras e intensidade, a dar corpo aos corpos e às figuras que se adensam e preenchem, quase sempre na totalidade, a folha onde se inscrevem”</span>.<br /><br />A diretora disse ainda que o erotismo destes traços é um olhar de fora para dentro: “<span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">Há algum paradoxo em alinhar estes desenhos pela temática do erotismo, porque ele aqui pode ser triste, abandonado. São corpos e rostos anónimos que convocam todos, na serenidade ou na impaciência dos seus sentimentos e inquietações”</span></span>, afirmou.<br /><br />As seis pedras mármore, alentejanas de Estremoz, têm um metro por um metro, e foram pintadas a lápis de cera. “Serão desenho ou não?”, questiona-se a diretora, lembrando que estas fazem parte de um conjunto maior, de 12 pedras, que foram mostradas apenas duas vezes em Portugal.<br /><br /><span style="font-size:130%;">Esta é também uma exposição que espelha a dimensão de artista plural – Malangatana fez pintura, desenho, aguarela, gravura, cerâmica, tapeçaria, escultura, dança, música, poesia e teatro – e de homem com olhos e consciência na história e na política de Moçambique e do mundo. </span><br /><br />Ana Isabel Ribeiro lembra que, <span style="font-style: italic;">“se o seu trabalho inicial não tinha uma relação direta com o homem, mas mais com a paisagem, cedo o artista convocou para as suas telas fábulas, histórias, rituais, contos tradicionais ou mesmo uma ambiência de religiosidade, que traduziam o seu apurado sentido de observação quer das suas origens culturais quer da situação colonial, vincando a crítica política e social”</span>.<br /><br />O corpo de Malangatana está em câmara ardente no Mosteiro dos Jerónimos, na Sala do Refeitório do Mosteiro, até às 24:00.<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-91900077105691331552010-12-25T15:38:00.008+02:002010-12-28T16:04:10.025+02:00O acampamento de Sem Terra 08 de março está “na luta”, ao sol, por um pedaço de terra<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >O acampamento 08 de março, de militantes do Movimento dos Sem Terra (MST), está na berma de uma estrada a vinte minutos da cidade de Corumbá, no Estado do Mato Grosso do Sul, “na luta”, ao sol, “à espera de uma pedaço de terra para cultivar”. </span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /><a href="http://1.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TRnqrlPDAMI/AAAAAAAABmg/_clLPDfHPsQ/s1600/ACAMPAMENTO_SEM_TERRA%2B%25282%2529.JPG"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 268px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TRnqrlPDAMI/AAAAAAAABmg/_clLPDfHPsQ/s400/ACAMPAMENTO_SEM_TERRA%2B%25282%2529.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5555729649788715202" border="0" /></a><br />As cerca de 60 famílias de militantes do MST estão acampadas no chão vermelho da berma de uma estrada que conduz ao Pantanal há mais de seis meses. Todas têm casa a poucos quilómetros, nas cidades de Corumbá e de Ladário. <span style="font-size:130%;">Há tendas improvisadas com troncos finos e lençóis de plástico preto grosso e duas bandeiras hasteadas: a do Brasil e a das ideias. </span><br /><a href="http://3.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TRnrJWdOZ7I/AAAAAAAABmo/yQHsoh2vJuI/s1600/ACAMPAMENTO_SEM_TERRA.JPG"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 400px; height: 268px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TRnrJWdOZ7I/AAAAAAAABmo/yQHsoh2vJuI/s400/ACAMPAMENTO_SEM_TERRA.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5555730161217726386" border="0" /></a><br /><span style="font-size:130%;">Há jerricãs, cavalos, cães e galinhas. Há militantes de pele morena e chinelos nos pés, uns a trabalhar, outros à sombra, a conversar e a beber tereré [uma bebida de origem guarani, feita com a imersão da erva-mate]. </span><br /><br />Miriam e Anderson são coordenadores do acampamento. A mulher explica que “<span style="font-style: italic;">até chegarem onde querem chegar, as famílias [aqui representadas] têm que passar por um processo doloroso, longo, por muitas dificuldades”</span>.<br /><br />O homem – rapaz, ainda – fala pouco, mas ela fala por ele: <span style="font-style: italic;">“Tenho sete filhos, nenhum deles aqui comigo. Deixei a minha família para estar aqui. Esta é minha nova casa. Não temos crianças na comunidade porque ainda não conseguimos organizar-nos para que os meninos possam ter aulas”</span>, explica.<br /><a href="http://1.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TRnrlJKJvbI/AAAAAAAABmw/GBMqSM0DIBk/s1600/ACAMPAMENTO_SEM_TERRA%2B%25288%2529.JPG"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 268px; height: 400px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TRnrlJKJvbI/AAAAAAAABmw/GBMqSM0DIBk/s400/ACAMPAMENTO_SEM_TERRA%2B%25288%2529.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5555730638684405170" border="0" /></a><br />São eles a voz desta <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“família grande que se juntou na luta”</span></span>. Têm a tarefa de dialogar com a autarquia e com outras entidades para conseguirem benefícios para a comunidade. São eles que vão articular-se com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária até que se encontrem na região fazendas que possam ser desapropriadas e divididas em parcelas de terreno, que serão distribuídas pelos militantes e depois cultivadas. O processo pode demorar entre um e cinco anos.<br /><br /><span style="font-size:130%;">Pelas contas do MST, existem pelas bermas das estradas do Brasil 90 mil comunidades com esta. </span><br /><br />A coordenadora explica ainda que <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“há alguns militantes que trabalham na cidade e só vêm ao acampamento quando têm folga e outros, como é o seu caso, que permanecem e vivem com a cesta básica de alimentos que o Governo dá”</span></span>.<br /><br />Estar aqui, diz, “é maravilhoso, os dias são gostosos”, e é imprescindível: “Tem que ficar aqui, não tem que abandonar, tem que correr atrás até conseguir. Esse é o objetivo”, acrescenta.<br /><br />Sentado num banco baixo, sem costas, Elisiomar Rodrigues da Silva conta que nasceu e cresceu numa fazenda: <span style="font-style: italic;">“Vim para aqui por causa da falta de emprego na. As máquinas estão a tomar o nosso espaço na fazenda, a empurrar-nos para a cidade”</span>, diz. Tem cinco filhos entre os nove e dois anos. A família não está no acampamento e Elisiomar sente saudades mas está certo de que se não for ele a lutar pelos filhos, não há quem lute.<br /><br /><a href="http://3.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TRnsK0ZEt3I/AAAAAAAABm4/WnteAJtFx5w/s1600/ACAMPAMENTO_SEM_TERRA%2B%25281%2529.JPG"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 400px; height: 268px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TRnsK0ZEt3I/AAAAAAAABm4/WnteAJtFx5w/s400/ACAMPAMENTO_SEM_TERRA%2B%25281%2529.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5555731285944874866" border="0" /></a>O seu objetivo é <span style="font-style: italic;font-size:130%;" >“arrumar uma terrinha para criar as crianças sem depender dos outros”</span>: <span style="font-style: italic;"><span style="font-size:130%;">“O lucro que a gente dá para o patrão é o prejuízo que a gente toma, que a gente sai de madrugada e não tem horário para voltar”</span>,</span> considera.<br /><br />Quando tiver um pedaço de terra vai <span style="font-style: italic;">“plantar uma mandioca, um milho, um feijão, que é a comida do pobre. <span style="font-size:130%;">Mas sem depender de patrões porque só nos querem enquanto temos saúde. Quando se perde saúde deixa-se de se ser bom”</span></span><span style="font-size:130%;">.</span><br /><br /><span style="font-size:130%;">No acampamento, garantem, “é tudo gente humilde”, que precisa de terra, que quer trabalhá-la.</span><br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-81690657105434433462010-12-25T14:49:00.006+02:002010-12-25T15:31:46.018+02:00Deuvek é camponês e vai licenciar-se em Geografia na escola do Movimento dos Sem Terra<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >Deuvek Mateus, 52 anos, é camponês, militante do Movimento dos Sem Terra (MST), e vive há 26 anos num assentamento que ajudou a erguer depois de ocupar o terreno com outras 300 famílias. Tem cinco filhos, todos licenciados. Agora foi a sua vez de vir à escola.</span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /><a href="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TRXr7HZk3mI/AAAAAAAABmY/0gzEYYR-sHk/s1600/DEUVEK.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 265px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TRXr7HZk3mI/AAAAAAAABmY/0gzEYYR-sHk/s400/DEUVEK.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5554605116262506082" border="0" /></a><br />O camponês está na Escola Nacional Florestan Fernandes, do Movimento dos Sem Terra, a fazer uma licenciatura em Geografia. O curso é uma parceria entre a escola do MST e a Universidade Estadual Paulista e é reconhecido pelo Governo brasileiro. Deuvek Mateus escolheu Geografia por considerar que <span style="font-style: italic;font-size:130%;" >“as disciplinas se ligavam ao [seu] percurso dentro do movimento e seriam úteis à comunidade”</span><span style="font-size:130%;"> </span>em que vive: <span style="font-style: italic;">“Interessam-me sobretudo as questões relacionadas com organização dos assentamentos [cooperativas plurifamiliares de produção agrícola]”</span>, conta.<br /><br />Durante cinco anos, o tempo da licenciatura, Deuvek vai dividir-se entre <span style="font-style: italic;">“tempo escola” </span>e <span style="font-style: italic;">“tempo comunidade”</span>, tempo da teoria e tempo da prática. <span style="font-style: italic;">“Chama-se pedagogia da alternância</span>, <span style="font-style: italic;">assim o conhecimento flui e cresce”</span>.<br /><br /><span style="font-size:130%;">Este camponês passou, com a sua família, pelo processo que as mais de 90 mil famílias acampadas à beira de estradas por todo país esperam passar. Hoje, diz, as 300 famílias do assentamento em que vive </span><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >“estão numa fase bastante consolidada”</span><span style="font-size:130%;">.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">“É uma comunidade organizada do ponto de vista social. Apesar de cada uma ter a sua área para produzir há todo um processo de cooperação na vida social, e também na produção. Os trabalhadores utilizam equipamento coletivo e planeiam a produção em conjunto”</span>, conta.<br /><br /><span style="font-size:130%;">As famílias já construíram as suas casas, existe um posto de saúde, energia elétrica, e produz-se feijão, arroz, milho, verduras, frutas e leite. Além de garantir a subsistência das 300 famílias da comunidade, a cooperativa agrícola coloca produtos no mercado e gera receita.</span><br /><br />Antes de chegar aqui, <span style="font-style: italic;">“a vida da comunidade foi dura”</span>.<span style="font-size:130%;"> O camponês passou vários anos sem ter dinheiro para comprar sequer um chocolate para os filhos. Não se arrepende. Acredita que é na reforma agrária que está a chave para o desenvolvimento do Brasil.</span><br /><br />Deuvek defende que a ocupação de terras é uma ação política, organizativa e socioeconómica. E explica: <span style="font-style: italic;">“Podemos dizer que é uma ação do ponto de vista político, porque questiona o latifúndio, que é uma ação organizativa, porque é daí que nasce a organização, mas também que é uma ação do ponto de vista socioeconómico, porque responde às necessidades básicas das famílias e dos trabalhadores sem terra do Brasil”</span>.<br /><br /><span style="font-size:130%;">Não há, argumenta, outra forma de o país avançar: </span><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >“Só a reforma agrária vai permitir resolver os problemas estruturais do Brasil como o desemprego, a falta de alimentos e a questão ambiental”</span><span style="font-size:130%;">. </span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-49757441673917905902010-12-21T21:42:00.008+02:002010-12-21T22:30:22.630+02:00Na escola dos Sem Terra o camponês é doutor e revolucionário<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >Na escola nacional Florestan Fernandes, em São Paulo, o Movimento dos Sem Terra (MST) dá a milhares de camponeses militantes uma oportunidade que lhes foi negada durante gerações. <span style="font-size:180%;">Nesta escola o camponês estuda para ser doutor e revolucionário. </span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /><a href="http://1.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TRED7OZhGhI/AAAAAAAABls/N02KG4Mkyng/s1600/ESCOLA_DOS%2BSEM%2BTERRA_TXT11561948%2B%25283%2529.JPG"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 268px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TRED7OZhGhI/AAAAAAAABls/N02KG4Mkyng/s400/ESCOLA_DOS%2BSEM%2BTERRA_TXT11561948%2B%25283%2529.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5553224131536820754" border="0" /></a><br />A escola fica a mais de uma hora de carro do centro de São Paulo, em Guararema. Em seis anos de passaram por aqui mais de 16 mil pessoas, entre alunos e professores, todos voluntários.<br /><a href="http://3.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TREFqYvuOzI/AAAAAAAABl0/1RyfSXKggmE/s1600/ESCOLA_DOS%2BSEM%2BTERRA_TXT11561948%2B%25284%2529.JPG"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 400px; height: 268px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TREFqYvuOzI/AAAAAAAABl0/1RyfSXKggmE/s400/ESCOLA_DOS%2BSEM%2BTERRA_TXT11561948%2B%25284%2529.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5553226041279789874" border="0" /></a><br />O espaço é amplo, desenhado em linhas retas e cores claras, arejado, arrumado. <span style="font-size:130%;">Há silêncio e cheira ao verde que há à volta. Pelas paredes, entre os pátios, há espaços de reflexão, poemas, fotografias, palavras de ordem. </span><span style="font-size:130%;">Bertolt Brecht, José Saramago, Sebastião Salgado, Karl Marx. </span><br /><br />Nas salas de aula há janelas compridas, cheiro a giz, <span style="font-size:130%;">cadeiras vermelhas e revolução posta nas toalhas da mesa dos professores e pregada no quadro de cortiça que fica nas costas dos alunos. </span><br /><br />Aqui, explica o porta-voz do MST João Paulo Rodrigues, <span style="font-size:130%;">“</span><span style="font-style: italic;"><span style="font-size:130%;">acontece um processo de lapidação política teórica, curricular, que se espalha por todo o país</span>. A escola é um método político de formação e de educação do movimento nacional e de outros movimentos sociais nacionais e internacionais”.</span><br /><br /><a href="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TREGkkWO7cI/AAAAAAAABl8/BwwhORB60w4/s1600/ESCOLA_DOS%2BSEM%2BTERRA_TXT11561948%2B%25285%2529.JPG"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 400px; height: 268px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TREGkkWO7cI/AAAAAAAABl8/BwwhORB60w4/s400/ESCOLA_DOS%2BSEM%2BTERRA_TXT11561948%2B%25285%2529.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5553227040826518978" border="0" /></a>Maria Goreti, membro da direção da escola, explica que “<span style="font-style: italic;font-size:130%;" >neste espaço milhares de sem terra podem ter acesso a educação, que foi historicamente negada aos camponeses e à classe trabalhadora”. </span><br /><br />A dirigente diz ainda que quem aqui estuda <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“apropria conhecimento para caminhar num processo de emancipação, de libertação”</span></span>:<span style="font-style: italic;"> “As pessoas vêm aqui estudar e depois regressam às suas áreas de assentamento [cooperativas plurifamiliares de produção agrícola] e aplicam no campo brasileiro aquilo que aprenderam”</span>, conta.<br /><br />Acrescenta que <span style="font-style: italic;">“os eixos de conhecimento aprofundados na escola estão ligados à História, à Filosofia, à Teoria da Organização, – onde entram as lutas da reforma agrária e também os processos de agroecologia – à questão agrária e à luta dos camponeses da classe trabalhadora”</span>.<br /><br />E há também <span style="font-style: italic;">“temas transversais a estes eixos, como a Cultura, a Literatura, as Artes, ou as relações entre homens e mulheres”</span>: <span style="font-style: italic;">“A escola propõe também uma forma diferente de nos relacionarmos, que não está vinculada a uma visão de mercadoria, que vê o ser humano numa perspetiva livre”</span>, diz.<a href="http://2.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TREHGSyFHtI/AAAAAAAABmE/kuXbthCVEVg/s1600/ESCOLA_DOS%2BSEM%2BTERRA_TXT11561948%2B%25286%2529.JPG"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 268px; height: 400px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TREHGSyFHtI/AAAAAAAABmE/kuXbthCVEVg/s400/ESCOLA_DOS%2BSEM%2BTERRA_TXT11561948%2B%25286%2529.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5553227620227030738" border="0" /></a><br /><br />Na Florestan Fernandes não se vai às compras. Vive-se, diz-se por aqui, de trabalho e de solidariedade. As tarefas dividem-se – todos fazem tudo –, come-se o que a terra dá e recebe-se alguns excedentes de assentamentos próximos. <span style="font-size:130%;">Hoje o almoço é arroz, feijão, farinha de mandioca, salada de alface e tomate e três cubos de carne por pessoa. </span><br /><br />A frequência das aulas é gratuita mas os alunos assumem que o que levam daqui tem que ser semente para germinar na terra e voltar à casa: <span style="font-style: italic;">“Você tem um compromisso com a comunidade, com o movimento social a que pertence ao aprender conhecimentos aqui. Esses conhecimentos têm que retornar”,</span> explica Maria Goreti.<br /><br /><span style="font-size:130%;">Na verdade, percebe-se nas palavras de todos, a escola é apenas o espaço onde se faz formação. <span style="font-size:180%;">O movimento real, a transformação do conhecimento – a revolução – germina aqui mas acontece na terra. </span></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-63381296577845227322010-12-16T16:04:00.008+02:002010-12-16T16:38:49.849+02:00Os netos dos escravos veem um Brasil com racismo velado e cinco séculos de problemas por resolver<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >A comunidade do quilombo do Campinho da Independência, onde vivem 450 descendentes de escravos negros brasileiros, perto de Paraty, no estado do Rio de Janeiro, aplaude o Presidente Lula mas defende que os negros do Brasil ainda não são livres. </span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /><a href="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TQojQMAv1iI/AAAAAAAABlE/YpNlxk92N8k/s1600/quilombo_3.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 268px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TQojQMAv1iI/AAAAAAAABlE/YpNlxk92N8k/s400/quilombo_3.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5551288251696797218" border="0" /></a><br />Os 13 núcleos familiares que se distribuem pelos cerca de 280 hectares de terra do quilombo são todos descendentes de três escravas negras que vieram, no século XIX, trabalhar para uma fazenda: A vovó Antonica, a vovó Camila e a tia Maria Luísa.<a href="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TQojiL4jtmI/AAAAAAAABlM/qu09t2X77-8/s1600/quilombo.jpg"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 268px; height: 400px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TQojiL4jtmI/AAAAAAAABlM/qu09t2X77-8/s400/quilombo.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5551288560900093538" border="0" /></a><br /><br />As crianças que correm no pátio perto da associação de moradores no intervalo das aulas são a sexta geração deste quilombo.<br /><br />À volta é tudo verde, fresco. Os caminhos são de terra. Da tradição pouco sobra para além da cor da pele de quem aqui vive, da forma do artesanato e da casa onde ele é vendido. A maioria das famílias vive em casas de tijolo sem acabamentos e com antenas parabólicas.<br /><br />A escola e a igreja são construções convencionais. Antes de se chegar ao campo de futebol de terra batida há um pedaço muro onde desenharam um negra com um filho perto e onde escreveram: <span style="font-style: italic;">“Eu peço a Deus que ilumine minha comunidade trazendo mais cultura e menos malandragem”</span>.<br /><br />Wagner do Nascimento, ou Waguinho, presidente da associação de moradores, conta que <span style="font-style: italic;">“depois da conquista da terra [o Campinho obteve a titulação coletiva das suas terras apenas em março de 1999, depois de mais de 30 anos de luta], a luta é para frutificar”</span>.<br /><br /><a href="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TQojwiRtkQI/AAAAAAAABlU/AAM-T44syzo/s1600/quilombo3.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 400px; height: 268px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TQojwiRtkQI/AAAAAAAABlU/AAM-T44syzo/s400/quilombo3.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5551288807429345538" border="0" /></a>O desafio do quilombo hoje é <span style="font-style: italic;">“desenvolver a comunidade com base na agricultura familiar, no artesanato, no manejo dos recursos naturais conscientes e promover a sustentabilidade do grupo”</span>, diz.<br /><br />Metade das pessoas do quilombo vive das atividades comunitárias que aqui se desenvolvem, do cultivo da terra ao restaurante, passando pela casa da farinha ou pelas guiadas a turistas.<br /><br />Esta terra dá, garante Waguinho, <span style="font-style: italic;">“antes de comida, liberdade, porque não há cercas, não há muros. A terra permite à comunidade relacionar-se com a Mata Atlântica e isso ajuda o nosso trabalho sócio-ambiental”</span>.<br /><br /><div style="text-align: justify;">O presidente da associação de moradores considera que a luta tem sido grande, mas reconhece que as conquistas também: <span style="font-style: italic;">“A comunidade tem-se desenvolvido bastante. Hoje temos saneamento básico e, embora a energia elétrica não seja a 100 por cento, já chega a algumas casas”</span>, diz.<a href="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TQokT4_w_JI/AAAAAAAABlk/J9EFYzW_SKc/s1600/quilombo_2.jpg"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 400px; height: 268px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TQokT4_w_JI/AAAAAAAABlk/J9EFYzW_SKc/s400/quilombo_2.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5551289414823509138" border="0" /></a></div><br />Mais de metade da comunidade vive desta terra e quem trabalha fora, acrescenta Waguinho, <span style="font-style: italic;">“está a organizar-se para encontrar formas de trabalhar aqui”</span>.<br /><br />O quilombo é porta para a liberdade e arma para a luta contra a discriminação: <span style="font-style: italic;">“A população negra foi sempre a mão-de-obra do desenvolvimento do Brasil, muitas vezes escrava. E o nosso grande desafio é que isso mude. Queremos combater o racismo velado que existe no Brasil. Queremos o desenvolvimento a partir do nosso conhecimento, da nossa história de luta”</span>, defende.<br /><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:130%;">Wagner do Nascimento diz que </span><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >“houve alguns avanços” </span><span style="font-size:130%;">durante os dois mandatos do Presidente Lula da Silva e que no próximo domingo vota </span><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >“na continuidade”</span><span style="font-size:130%;"> [Dilma Rousseff, a candidata apoiada pelo Presidente sindicalista], mas aponta falhas que decorrem, considera, da impossibilidade de </span><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >“em oito anos se resolverem problemas com cinco séculos”. </span><br /></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-12139485603005859492010-11-26T22:46:00.004+02:002010-11-26T22:53:11.942+02:00Lula da Silva e o medo de deixar de ser cool ou o barato sai caro e está bem à vista<div style="text-align: justify;"><span style="font-size:130%;">O Secretário Nacional de Segurança Pública do Governo de Lula da Silva em 2003, Luiz Eduardo Soares, defendeu, em entrevista à Lusa, que o Presidente “<span style="font-style: italic;">perdeu uma oportunidade histórica para resolver os problemas de segurança do país”</span>. </span><br /><br />Para o coautor do livro que inspirou o filme “Tropa de Elite” – que ilustra um quotidiano violento e corrupto no Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro – <span style="font-size:130%;">“é uma deceção muito grande que Lula da Silva tenha perdido a oportunidade de se desfazer da herança da ditadura militar [1965-1985] e passar o Brasil a limpo na área da segurança pública, pondo fim à tortura”. </span><br /><br />“O Brasil herdou da ditadura problemas da maior gravidade no plano das estruturas organizacionais. <span style="font-size:130%;">Era imperioso que se estendesse o processo de transição democrática às polícias e às instituições afins para que pudéssemos começar o processo de atualização das polícias, para que elas se convertessem em instrumentos democráticos, ao serviço do estado democrático, de direito, de cidadania, cumprindo em fim suas missões constitucionais”</span>, explicou. <br /><br />Luiz Eduardo Soares foi um dos coordenadores do plano que integrou o programa de Governo de Lula da Silva e que o Presidente decidiu depois não levar avante. <br /><br />“Tratava-se de uma reforma profunda das instituições através de mudanças na Constituição. O compromisso era eliminar a tortura, as execuções extra-judiciais, a brutalidade policial, o desrespeito aos direitos humanos, valorizar o trabalhador policial como cidadão, como profissional”, acrescentou. <br /><br />Em agosto de 2003, diz, todos os Governadores dos 27 Estados do país tinham assinado o termo de compromisso com as mudanças, o chamado “Pacto pela Paz”. E então o Presidente recuou: <span style="font-size:130%;">“Lula decidiu não avançar com esta mudança porque os seus conselheiros avaliaram que ele se tornaria o grande protagonista da segurança pública no Brasil”,</span> considera. <br /><br /><span style="font-size:130%;">“O Presidente não quis assumir o início de um longo processo, cujos resultados seriam colhidos ao longo de anos, já com os seus sucessores, e cujos custos seriam pagos por si; os custos de resistência, de necessidade de ajustes, normais num processo de mudança”</span>, acrescentou. <br /><br />O antropólogo defende que isto aconteceu também porque <span style="font-size:130%;">“hoje a situação é muito confortável”,</span> sendo que a Presidência não tem responsabilidades diretas sobre a questão da segurança e isso, diz, <span style="font-size:130%;">“permite-lhe lavar as mãos, deixar a bomba no colo dos governadores e, quando a situação se torna explosiva – dramática – aparecer de uma maneira muito simpática, muito solidária, a prestar ajuda”</span>. <br /><span style="font-size:180%;"><br />“Os Presidentes anteriores avaliaram que esta situação, apesar de muito mais nociva para o país, é muito mais confortável politicamente. E Lula acabou por fazer o mesmo”.</span> </div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-55121509914620167822010-11-26T12:59:00.002+02:002010-11-26T13:02:47.597+02:00“O problema do Rio já não é o tráfico de droga, são as as milícias", diz inspirador de "Tropa de Elite"<div style="text-align: justify; font-style: italic;"><span style="font-size:130%;">O maior problema de segurança do Rio de Janeiro são as milícias que ocupam o lugar dos traficantes, considera Luiz Eduardo Soares, ex-membro do Governo de Lula da Silva e coautor do livro que inspirou o filme “Tropa de Elite”.<br /><br /></span><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;">Entrevista publicada a 22/09/2010</span><br /></div></div><p style="text-align: justify;">Em entrevista à agência Lusa, o antropólogo e secretário Nacional de Segurança Pública em 2003 anunciou que o novo contexto será também o cenário do livro e do filme “Tropa de Elite 2”, com lançamento e estreia agendados para outubro no Brasil, o mês das eleições gerais no país, marcadas para dia três. </p><p style="text-align: justify;">Segundo Luiz Eduardo Soares, o problema retratado em “Tropa de Elite”, sobre o quotidiano violento e corrupto no Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro, atinge mais de uma centena das favelas na cidade – mais do que as que são controladas pelo tráfico de droga. </p><p style="text-align: justify;">“São grupos de polícias, ex-polícias, alguns bombeiros e alguns civis que se organizam, invadem uma área controlada pelo tráfico de drogas, matam os traficantes ou expulsam-nos e substituem-nos, reproduzindo as suas práticas, desde o tráfico de drogas até as outras práticas nefastas, conhecidas em todo o mundo, típicas de máfia”, contou o autor.</p><p style="text-align: justify;">Estes grupos, acrescentou, “cobram taxas sobre todas as transações comerciais, transportes, residências, promovem migrações ilegais, apropriando-se de terras públicas e vendendo-as ou alugando-as, controlam Internet, televisão por cabo…”.</p><p style="text-align: justify;">Se algum residente nestas áreas ocupadas se recusa a pagar, “é exemplarmente castigado”, descreveu: “E aí temos torturas de todos os tipos e execuções públicas de morte. É uma justiça própria, terrível, selvagem, despótica, que é exibida para a comunidade como forma de aterrorizá-la.”.</p><p style="text-align: justify;">Luiz Eduardo Soares considera que estes homens são muito mais perigosos do que os traficantes de droga, que são “cada vez mais jovens – morrem com 16, 17, 18 anos –, não têm experiência, nunca saíram da favela, não sabem andar pela cidade, não sabem o que fazer com o dinheiro”.</p><p style="text-align: justify;">Estes homens “têm 30, 40 anos, são profissionais treinados nas polícias, conhecem os caminhos todos do Estado, e já têm um plano, que está em execução, típico do crime organizado”, afirmou.</p><p style="text-align: justify;">O antropólogo disse ainda que as milícias estão assentes sobre uma “perigosíssima e violenta” estrutura de poder com legitimação democrática.</p><p style="text-align: justify;">“As milícias não cresceram senão à sombra do poder. Contaram não só com a negligência do poder, mas com a sua cumplicidade ativa. Elas são parte do poder, que atua condicionado pelo peso dos votos”, acrescentou.</p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-81522900088170370292010-11-19T00:11:00.002+02:002010-11-19T00:15:38.104+02:00Amor, faca e alguidar<div style="text-align: justify;"><span style="font-size:130%;"> Uma casa, um armazém de têxteis, oito anos de <span style="font-weight: bold;">um amor que ela sentia bonito, impreterível, visceral.</span> <span style="font-size:180%;">Palavras tremidas da mulher que soluça de frente para uma juíza firme. </span><br /><br /><span style="font-style: italic;">“Um homem bom, um homem muito meu amigo, muito bom para mim”. </span><br /><span style="font-size:180%;"><br />Palavras tremidas da mulher que soluça de costas para uma audiência que chora com ela. </span> <span style="font-style: italic;"> “O meu marido”</span> no meio das frases todas, a dar consistência, a fazer eco, a fazer doer a dor do amor dela. <span style="font-style: italic;">“O meu marido”.</span> <br /><br />E depois as chaves da carrinha da mão dele para a mão dela. Explicação nenhuma, silêncio, ausência. <br /><br /><span style="font-style: italic;">“Ao telefone disse-me que metesse na minha cabeça que não me queria mais, que não voltava para mim. Não sei explicar como fiquei”. </span> <br /><br />Os dias depois do dia das chaves da carrinha da mão dele para a mão dela foram todos maus. <br /><br /><span style="font-style: italic;">“Eu não estava bem. Não tinha sentido de vida sozinha, sem o meu marido ao meu lado. Não conseguia viver sem uma explicação. Ia todos os dias sozinha ao armazém. Ia vê-lo, mesmo de longe. Umas vezes tentava falar com ele, outras vezes não. Nunca me aproximei muito porque de cada vez que ele me via mandava-me embora, fechava-me a porta”. </span><br /><br />Um dia ele – <span style="font-style: italic;">“o meu marido, o meu marido” </span>– ameaçou-a de morte. Mas “<span style="font-style: italic;">jamais seria capaz, jamais seria capaz, ao que ele gostava [dela], jamais seria capaz, o meu marido”</span>. <br /><br />O dia da véspera daquele dia foi pior, muito pior. <br /><br /><span style="font-style: italic;">“Deitei-me com o revólver carregado que o meu marido tinha deixado em casa. Não sei quantas balas tinha, nunca tinha pegado numa arma. <span style="font-size:180%;">Levei a noite toda a pensar em matar-me, em matar-me, matar-me, matar-me”. </span> </span><br /><br />Mas jamais seria capaz, jamais seria capaz. Ao que ela o amava, ao marido, jamais seria capaz. De manhã levou a pistola na mão, carregada, à vista. Ia dizer-lhe amor. <span style="font-style: italic;">“Ou ele me explicava o motivo da separação, ou eu me matava”.</span> Era só isso. <br /><br />Mas depois não foi. Foram quatro tiros à queima-roupa e o homem morto. <br /><span style="font-style: italic;font-size:180%;" ><br />“Quando me viu disse-me ‘vai-te embora daqui, minha grande puta’. E eu não disse nada, disparei”.</span></span> </div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-34085404666882477212010-11-12T13:42:00.004+02:002010-11-14T14:24:55.939+02:00Na favela, o partido é Paraisópolis<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >Na favela de Paraisópolis, nos subúrbios de São Paulo, tem crescido ao ritmo exuberante do Brasil de Lula da Silva. Nas ruas há cores garridas, muita vida, muita pressa, muito orgulho. Na favela, o partido em que se vota é Paraisópolis. </span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /><a href="http://3.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TN0pTJePa0I/AAAAAAAABk0/sAJTjQCnE_s/s1600/favela_paraisopolis_txt11544697%2B%25284%2529.JPG"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 268px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TN0pTJePa0I/AAAAAAAABk0/sAJTjQCnE_s/s400/favela_paraisopolis_txt11544697%2B%25284%2529.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5538628525672590146" border="0" /></a><br />Vistas de cima, <span style="font-size:130%;">as ruas próximas da União de Moradores desta comunidade dos subúrbios de São Paulo parecem uma pista de dança</span>. Debaixo do emaranhado de fios elétricos que abastece os 100 mil moradores da comunidade, há <span style="font-size:130%;">música, ritmo e um gingar de centenas de corpos. </span><br /><br /><span style="font-size:130%;">A festa é tanta que, diz-se por aqui, o aparato ostensivo do luxuoso bairro do Morumbi, que se avista ao longe, chega a ter inveja. </span><br /><br />O presidente da União de Moradores, Gilson Rodrigues, conta que a comunidade <span style="font-style: italic;">“cresceu 20 anos em dois”</span>: <span style="font-style: italic;">“Todas as semanas abre um comércio novo, todos os dias há um contacto de pessoas querendo montar um projeto”</span>, diz.<br /><br /><span style="font-style: italic;">“Quando aqui cheguei, [em 2001] os maiores problemas eram de infraestruturas. Era tudo lama. Não havia asfalto, havia gangues – [as pessoas] da rua de baixo não podiam subir para a rua de cima – havia um dono da favela, que às vezes se metia em discussões de marido e mulher, tudo o que acontecia tinha que ser resolvido com essa pessoa”</span>, conta.<br /><br />Os moradores, diz, <span style="font-style: italic;">“não tinham liberdade de circular, de se expressar”</span>. Mas hoje, garante, a favela deu um salto, sobretudo <span style="font-style: italic;">“graças à união das pessoas, à mobilização, à intervenção e participação”. </span><br /><span style="font-style: italic;">“Na União de moradores, por onde passam por dia cerca de 1 500 pessoas há, à disposição de todos, telecentro, biblioteca, cozinha comunitária, a escola do povo, salas de informática, uma rádio comunitária, um jornal comunitário, um site e um espaço jovem, onde se desenvolvem inúmeras atividades”</span>, ilustra.<br /><br />A associação das mulheres de Paraisópolis [quase 50 por cento dos moradores da comunidade são mulheres] também nasceu na União e funciona hoje em pleno, a pensar políticas públicas para as mulheres.<br /><br />Antes de Lula da Silva, Paraisópolis tinha oito por cento da população abaixo da linha da pobreza. Hoje, dois mandatos depois, Gilson não tem um dado concreto, mas diz ter a certeza de que o número diminuiu bastante. <br /><br /><span style="font-style: italic;">“À medida que a população conseguiu ter acesso a recursos, ela montou negócios. Há oito mil comércios na favela. Você vê aqui pessoas que conseguiram, a partir dos apoios do Governo – apoio financeiro e incentivos à formação – avançar na vida. À medida que a pessoa vai ganhando oportunidades ela vai conseguindo que os seus caminhos sejam melhores”,</span> afirma. <br /><br />O ânimo da comunidade, diz, é grande. E isso percebe-se bem no ritmo que se sente nas ruas. Em poucos anos, garante Gilson, <span style="font-style: italic;">“isto vai transformar-se numa nova Paraisópolis. E é assim que queremos que se chame, para que não sobre mais nenhum preconceito em relação à comunidade”.</span><br /><br />Apesar do caminho trilhado, os desafios, reconhece, ainda são grandes: <span style="font-style: italic;">“Há dez escolas a funcionar mas há ainda 5 mil crianças que não vão às aulas e cerca de 15 mil pessoas analfabetas. Precisamos de um posto de saúde que possa servir convenientemente a comunidade”. </span><span style="font-style: italic;font-size:180%;" ><br /><br />Por isso, e porque o orgulho que se sente nas ruas, pelas lojas, é o mesmo que sai da boca do presidente da União de Moradores, em Paraisópolis vota-se em quem dá mais: “Votamos em quem olhar mais para a comunidade, o nosso partido é Paraisópolis”. </span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-31725922668446262512010-11-12T12:49:00.005+02:002010-11-12T13:00:47.815+02:00Dilma a cabeça, Lula o pescoço<div style="text-align: justify;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TN0cJl3XglI/AAAAAAAABks/pEDnK67H2sg/s1600/dilma%2B1.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 234px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TN0cJl3XglI/AAAAAAAABks/pEDnK67H2sg/s400/dilma%2B1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5538614067844317778" border="0" /></a><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-size:78%;"><span style="font-style: italic;">in "O cartoon do António", Expresso </span></span><br /> </span></div><br />Jacson Garrett da Costa é publicitário. Hoje está à beira do rio Paraguai à espera do barco para ir pescar e fala de um Brasil que recomeçou pelas mãos de um Presidente que <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“mudou o conceito de falso primeiro mundo”. </span></span><br /><br />O empresário está hospedado na pensão do maior restaurante do à pequena comunidade Porto da Manga, em Corumbá, junto à fronteira com a Bolívia, no Estado do Mato Grosso do Sul.<br /><br />Até 2007, quando o programa “Luz para todos”, do Governo, permitiu às cerca de 40 famílias aqui residentes terem acesso a energia elétrica, era aqui que estava o único gerador do bairro.<br /><br />Hoje a calma do curso do rio mantém-se e diz bem com a calma das pessoas que vivem à volta dele, mas é fácil perceber que a vida mudou. Hoje já não se usa lanternas no Porto da Manga.<br /><br />Agora há sempre água fresca em casa. Também por isso, diz Jacson, <span style="font-style: italic;">“com Lula houve um recomeço”.</span> Talvez não para o seu negócio, <span style="font-style: italic;">“porque a corrupção é muito boa para o meio publicitário”</span>, mas para o Brasil, <span style="font-style: italic;">“que é hoje visto com outros olhos pelo mundo inteiro”</span>.<br /><br /><span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Lula pensou no recomeço do Brasil. A história mostrou que as principais propostas dele – combater a fome e olhar para os países emergentes do nível do Brasil – estavam certas. Ele mudou o conceito de falso primeiro mundo”</span></span>, argumentou.<br /><br />Jacson sente que Lula percebeu que <span style="font-style: italic;">“primeiro era preciso dar o pão aos brasileiros”</span>: <span style="font-style: italic;">“Acho era preciso combater um problema real no Brasil: a fome, a miséria, que hoje estão a acabar. O avanço é grande nesse campo</span>”, diz.<br /><br /><span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Hoje o Brasil já não é só conhecido lá fora pelas bundas das meninas das escolas de samba. Já é conhecido porque é um país confiante e Lula tornou-se uma pessoa respeitada no mundo”. </span></span><br /><br />Gosta de Dilma Rousseff, a mulher a quem Lula confiou o Brasil: <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Dilma é um período novo. Acredito que ela é um pouco diferente de Lula, que sempre foi, no contexto local, revolucionário. Diria que Dilma é uma marxista moderna”,</span></span> afirmou.<br /><span style="font-size:130%;"><br />O publicitário vê “<span style="font-style: italic;">verdade</span>" na imagem da guerreira e confia no trabalho que ela será capaz de fazer, espera, com alguém a conduzir a dança: <span style="font-size:180%;"><span style="font-style: italic;">“Que Dilma seja a cabeça e que Lula seja o pescoço”. </span></span></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-78649674517868119882010-10-27T14:29:00.008+02:002010-10-31T13:54:28.013+02:00Bolsa Família: uma lata de leite foi muitas vezes tudo o que teve para dar aos filhos<div style="text-align: justify; font-style: italic;"><span style="font-size:130%;">Cláudia nasceu na favela de Paraisópolis, em São Paulo, onde ainda vive. Com o apoio que recebe do Governo compra uma lata de leite. Houve alturas em que era tudo o que tinha.<br /></span></div><div style="text-align: justify;"><br /><a href="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TMge-B-JbyI/AAAAAAAABkk/mJU1YrbjJCg/s1600/BLOGUE_PARAISOPOLIS.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 268px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TMge-B-JbyI/AAAAAAAABkk/mJU1YrbjJCg/s400/BLOGUE_PARAISOPOLIS.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5532706193254477602" border="0" /></a><br />Cláudia tem 23 anos e é mãe de dois filhos. A casa da família é um quarto com um beliche à esquerda, uma televisão atrás da porta e um fogão ao fundo. Fica perto do centro da favela, logo depois de duas estradas de alcatrão, uma de terra batida e outra de cimento. Cada uma mais estreita do que a outra. Depois há um muro tosco e alto, de betão, que afunila e conduz ao portão enferrujado. A porta da casa dá para um pátio cruzado por cordas com roupa estendida e pontuado com brinquedos de criança e o ladrar de um cão.<br /><br />Enquanto cozinha, o que também faz para viver, Denis explica que não tem emprego certo e que nas alturas em que está desempregado <span style="font-style: italic;">“a família passa aperto”</span>.<br /><br />Cláudia faz as contas: <span style="font-style: italic;">“Quando estamos os dois a trabalhar é ótimo. Em média, o meu salário e o dele dá 1 200 reais (524 euros). 250 reais (109 euros) vão para o aluguer da casa, 300 (131 euros) são para despesas com água, luz e gás. Só com um ordenado passamos muito aperto”</span>, diz.<br /><br />Com Lula da Silva na Presidência, garantem, <span style="font-style: italic;">“a vida mudou bastante”.</span> Se Dilma Rousseff, a candidata apoiada pelo atual presidente, subir ao poder, como esperam, <span style="font-style: italic;">“a vida vai continuar a melhorar”</span>.<br /><br />Cláudia acha que depois de Lula, <span style="font-style: italic;">“até o emprego ficou mais fácil”</span>: <span style="font-style: italic;">“Como recebo Bolsa Família [o programa de distribuição de rendimentos do Governo, que beneficia hoje quase 13 milhões de famílias brasileiras] pude fazer um curso profissional e recebi logo uma proposta de emprego. Por acaso rejeitei-a porque já trabalhava na União de Moradores”,</span> conta.<br /><br />A família recebe do Governo 20 reais (9 euros) por mês para ajudar nas despesas com alimentação e escola de Caíque, de 4 anos, e Eduarda, de 2. Visto de fora parece pouco. Visto de dentro, já foi o tudo o que Cláudia teve para dar aos filhos.<br /><br /><span style="font-style: italic;">“Com esse dinheiro você compra uma lata de leite, mas ainda bem que ganhamos alguma coisa. Quando comecei a receber ainda não estava casada. Só tinha os dois filhos, e quando não estava a trabalhar foi um auxílio, tinha alguma coisa para dar às crianças. Para mim está a valer até hoje. E sempre que recebo o dinheiro tento gastá-lo com os meus filhos”</span>, diz.<br /><br />Aqui em casa vota-se em Dilma Rousseff por <span style="font-style: italic;">“representar continuidade em relação ao trabalho de Lula da Silva”</span>. Cláudia espera que, subindo ao poder, a agora candidata olhe pelo acesso dos brasileiros mais pobres à Educação Superior e à Saúde. </div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-33023248068328095052010-10-25T14:54:00.005+02:002010-10-26T17:19:45.061+02:00Intervalo breve no Brasil ou Almada e a luta de punho erguido, com tinta<div style="text-align: justify;"><span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">Em Almada, a luta política do PCP ainda passa, a tinta de cor, pelos muros da cidade. Para a oposição, isto é política suja. E há mesmo quem tenha pintado de branco os murais que tinham cor e começado uma outra guerra.</span><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><br /><div style="text-align: right;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TMV-ed0x6HI/AAAAAAAABkc/hmAlILbjbT0/s1600/getimage.jpeg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 274px; height: 400px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TMV-ed0x6HI/AAAAAAAABkc/hmAlILbjbT0/s400/getimage.jpeg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5531966779161700466" border="0" /></a><span style="font-size:85%;">Fotografia de Mário Cruz/agência Lusa</span><br /><br /></div>Miguel Casanova, do PCP de Almada, fez as contas: <span style="font-style: italic;">“O partido deve ter 12 ou 13 murais, com entre quatro e cinco metros, pintados em todo o concelho”</span>. As pinturas, acrescentou, são <span style="font-size:130%;">tradição democrática, um direito enunciado na Constituição da República e no regulamento municipal, e uma voz que fala alto, para chegar a todos.<br /></span><br /><span style="font-style: italic;">“A pintura de murais é mais uma forma de o PCP mostrar as suas ideias e as suas propostas, de lhes dar visibilidade”</span>, explicou. O dirigente afirmou ainda que “nenhum” dos desenhos é feito em propriedade privada ou em edifícios históricos: <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Embelezamos muros públicos e fomentamos a consciência política”</span></span>, defendeu.<br /><br />Antes da tinta, contou, há organização e discussão sobre o tema da luta a desenhar. Às vezes os murais são comemorativos, como o desenho de Lenine, pintado ao lado da capela da Ramalha, no Pragal, outras são atuais, e de protesto, de anúncio de luta contra outras batalhas, como o que está pintado a caminho do Monte da Caparica.<br /><span style="font-size:130%;"><br />Todos os murais do PCP e da JCP na cidade têm sido cobertos por tinta branca. </span><br /><br />Em setembro, na Assembleia Municipal de Almada, o deputado Bruno Dias anunciou que o partido ia avançar com um procedimento criminal contra algumas pessoas ligadas à JSD, encontradas a destruir murais comunistas.<br /><br />A liberdade, afirmou, <span style="font-style: italic;">“é para exercer e para defender, e a lei é para cumprir na defesa dos direitos, liberdades e garantias que a Constituição da República consagra”.</span><br /><br />Miguel Casanova troca por miúdos: <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Decidimos que restauramos todos os muros que forem pintados de branco e que pintaremos mais um por cada desenho que tenha sido danificado”</span></span>.<br /><br />E isso é claro em todas as pinturas feitas agora de fresco, onde o argumento se repete em verso, nas palavras do poeta José Carlos Ary dos Santos:<br /><br /><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >"E a cada novo assalto<br />cada escalada fascista<br />subirá sempre mais alto<br />a bandeira comunista”.</span><br /><br />Isto, dizem os comunistas, <span style="font-style: italic;">“não se trata de guerra, trata-se de defender o que é do partido”. </span><br /><br />David Campos, da Juventude Social-democrata, não assume qualquer ligação com a tinta branca por cima das cores comunistas, a que chama, no entanto, “<span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">limpeza</span></span>” e com a qual concorda: <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Pintar murais é uma forma vergonhosa de se fazer política”</span></span>, disse.<br /><br /><span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Sujar espaço que é de todos com ideias que são apenas de alguns. É falta de respeito pelos cidadãos”:</span> </span><span style="font-style: italic;">“Acho que a liberdade e a luta não pertencem a um partido nem a um mês. E a liberdade de um acaba quando começa a liberdade do outro”</span>, argumentou.<br /><br />Além disso, defendeu, “<span style="font-style: italic;">não se percebe de que forma é que a promoção da Festa do Avante! defende os direitos dos trabalhadores”.</span><br /><br /><span style="font-size:130%;">O militante considera-as <span style="font-style: italic;">“moralmente condenáveis” </span>por acreditar que “<span style="font-style: italic;">há outras formas de chegar às pessoas”: “Isto é política fácil”,</span> argumentou, e foi mais longe: <span style="font-style: italic;">“Consideramos que a lei precisa de ser revista neste campo. Vamos levar este desafio à Assembleia da República”.</span></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-57405186709484475732010-10-24T15:38:00.005+02:002010-10-24T15:50:13.407+02:00O Brasil da banca de peixe<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >Bibiane Pinheiro tem uma banca de peixe à beira do rio Pantanal, em Corumbá, Mato Grosso do Sul. Acha que Lula foi bom para a vida dos brasileiros mas está preocupada com os problemas que a natureza tem trazido. </span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /><a href="http://3.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TMQ36nFaWnI/AAAAAAAABkU/Yu_4otMwv0s/s1600/COMERCIANTE_CORUMBA_TXT11536182+%282%29.JPG"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 268px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TMQ36nFaWnI/AAAAAAAABkU/Yu_4otMwv0s/s400/COMERCIANTE_CORUMBA_TXT11536182+%282%29.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5531607722381433458" border="0" /></a><br /><br />Tem esta banca no Porto Geral, de onde quase se avista a vizinha Bolívia, desde o ano 2000. Só trabalha com peixe fresco, mas vende “do peixe nobre até ao peixe mais simples”.<br /><br />Os dois mandatos do Presidente Lula, diz, “foram muito bons para o Brasil e para os brasileiros”, mas a vida em Corumbá é dura e a venda de peixe é cada vez mais difícil.<br /><br />“Há cinco anos atrás havia muita fartura de peixe. De há dois anos para cá tivemos um problema com a natureza e há cada vez menos quantidade. O custo da pesca está muito mais alto. O peixe chega muito caro ao consumidor”, explica.<br /><br />Ainda assim, acrescenta, nem tudo é novo. “Para nós aqui no Mato Grosso do Sul, que é, como se diz, o fim do mundo, na fronteira com a Bolívia, tudo é mais caro. O óleo é mais caro, a gasolina é mais cara, os alimentos chegam aqui caríssimos. O custo de vida é muito alto”, acrescenta.<br /><br />Hoje o barbado e a piranha custam dez reais o quilo (4,60 euros), o pintado, a dourada e o pacu, que são peixes nobres, custam 15 (6,90 euros).<br /><br />Viver do que vende à população de Corumbá, cerca de 100 mil pessoas, é muito difícil: “Também vendemos peixe à população, mas quem consome mais são os turistas, eles é que nos ajudam”, diz.<br /><br />Lula coordenou um Governo “muito bom para o país”, fez “diminuir muito o custo de vida dos brasileiros” mas o próximo Presidente, defende, “tem que olhar pela segurança e pela saúde do Brasil”. </div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-73591543276144053512010-10-24T14:46:00.005+02:002010-10-25T14:25:15.342+02:00À espera de que Dilma seja a cabeça e Lula o pescoço<div style="text-align: justify;">Jacson Garrett da Costa é publicitário. Hoje está à beira do rio Paraguai à espera do barco para ir pescar e fala de um Brasil que recomeçou pelas mãos de um Presidente que<span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;"> “mudou o conceito de falso primeiro mundo”. </span> </span><br /><br />O empresário está hospedado na pensão do maior restaurante do à pequena comunidade Porto da Manga, em Corumbá, junto à fronteira com a Bolívia, no Estado do Mato Grosso do Sul.<br /><br />Até 2007, quando o programa “Luz para todos”, do Governo, permitiu às cerca de 40 famílias aqui residentes terem acesso a energia elétrica, era aqui que estava o único gerador do bairro.<br /><br /><span style="font-size:130%;">Hoje a calma do curso do rio mantém-se e diz bem com a calma das pessoas que vivem à volta dele, mas é fácil perceber que a vida mudou. Hoje já não se usa lanternas no Porto da Manga. </span><br /><br />Agora há sempre água fresca em casa. Também por isso, diz Jacson, <span style="font-style: italic;">“com Lula houve um recomeço”</span>. Talvez não para o seu negócio, <span style="font-style: italic;">“porque a corrupção é muito boa para o meio publicitário”</span>, mas para o Brasil, <span style="font-style: italic;">“que é hoje visto com outros olhos pelo mundo inteiro. <span style="font-size:130%;">Lula pensou no recomeço do Brasil. </span>A história mostrou que as principais propostas dele – combater a fome e olhar para os países emergentes do nível do Brasil – estavam certas. Ele mudou o conceito de falso primeiro mundo”</span>, argumentou.<br /><br />Jacson sente que Lula percebeu que <span style="font-style: italic;">“primeiro era preciso dar o pão aos brasileiros”:</span> <span style="font-style: italic;">“Acho era preciso combater um problema real no Brasil: a fome, a miséria, que hoje estão a acabar. O avanço é grande nesse campo”</span>, diz.<br /><br /><span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Hoje o Brasil já não é só conhecido lá fora pelas bundas das meninas das escolas de samba. Já é conhecido porque é um país confiante e Lula tornou-se uma pessoa respeitada no mundo”. </span></span><br /><br />Gosta de Dilma Rousseff, a candidata que Lula apresentou ao país: “<span style="font-style: italic;">Dilma é um período novo. Acredito que ela é um pouco diferente de Lula, que sempre foi, no contexto local, revolucionário. Diria que Dilma é uma marxista moderna”</span>, afirmou.<br /><br />O publicitário vê <span style="font-style: italic;">“verdade na imagem da candidata do Partido dos Trabalhadores” </span>e confia no trabalho que ela será capaz de fazer. Tem, no entanto, uma esperança: <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Que Dilma seja a cabeça e que Lula seja o pescoço”.</span></span> </div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-60030070363903970272010-10-24T14:42:00.003+02:002010-10-24T15:52:11.339+02:00Lula, pai dos pobres, mãe dos banqueiros, fascínio de todos<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >Ao longo da exuberante avenida Paulista, cartão postal da capital de negócios do país, Lula faz sorrir quem fala dele. O presidente sindicalista deixa um Brasil melhor aos olhos da maioria dos brasileiros, independentemente do tamanho das suas carteiras.</span><br /><br />Na rua Augusta, em São Paulo, perpendicular ao brilho dos edifícios imponentes das multinacionais, dos saltos altos e dos fatos irrepreensíveis, Lúcia, 54 anos, fala junto à sua banca de lenços de senhora, gorros e bugigangas.<br /><br /><span style="font-style: italic;">“Se Lula fosse candidato, votaria nele de novo. <span style="font-size:130%;">Mudou muita coisa no Brasil.</span> Em termos de pobreza, o pobre começou a viver com mais dignidade. Hoje o pobre come melhor”,</span> diz. <br /><br />Lúcia vive sozinha com 600 a 800 reais por mês (274 a 365 euros). Com isso paga <span style="font-style: italic;">“todas as contas”</span>. Diz que vive com dignidade porque <span style="font-style: italic;">“hoje os preços estão praticamente iguais ao que estavam quando Lula assumiu a presidência, há oito anos”</span>, mas, na verdade, diz que vive <span style="font-style: italic;">“praticamente na mesma”.</span><br /><br />Com sotaque baiano diz ainda que <span style="font-style: italic;">“é preciso melhorar a Saúde”</span> mas acredita que <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“se o próximo presidente do Brasil continuar tudo o que Lula tem vindo a fazer, o Brasil vai ficar bom”.</span></span><br /><br />Mais perto do luxo, do brilho, da exuberância e da velocidade, Márcio Alves, paulistano, 32 anos, agente cultural, acha que o Partido dos Trabalhadores, do Presidente Lula, <span style="font-style: italic;">“está a fazer um bom trabalho no Brasil”.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">“Os pobres, no geral, puderam comprar carro, a inflação baixou, tudo deu uma melhorada”,</span> diz. Márcio vive com a mulher e com o filho. Vive bem, diverte-se, vai ao teatro. Diz que é razoável viver em São Paulo com dois mil reais por mês (914 euros). <br /><br />Acha que o próximo Presidente <span style="font-style: italic;">“devia dar mais oportunidades às pessoas mais humildes, pensar mais nos estudos do povo brasileiro para combater a violência, para deixar o Brasil melhor”</span>.<br /><br />Dentro de um impecável fato azul-escuro, Cláudio Lima, 54 anos, fuma um cigarro à porta do banco em que trabalha. Não tem dúvidas de que vive num país melhor. <br /><br /><span style="font-style: italic;">“Podem acusar o Lula de ser assistencialista, mas a redistribuirão de rendimentos melhorou [a vida das pessoas]. Acho que o Brasil melhorou também devido à conjuntura mundial”</span>, diz. Os pobres, diz, vivem melhor agora. Não tem, no entanto, a certeza de isso seja apenas obra de Lula da Silva. Para o bancário, é possível viver-se <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“razoavelmente”</span></span> em São Paulo com dez mil reais por mês (4 570 euros). </div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-26328814265852255012010-10-17T13:55:00.005+02:002010-10-17T14:43:32.597+02:00As classes do edifício sem classes não veem um Brasil menos desigual<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;font-size:130%;" >Astrid e Suzi vivem em São Paulo, no Copan, que o arquiteto Oscar Niemeyer projetou na década de 50 para ser um edifício sem classes. Uma vive no maior apartamento do prédio, outra no menor. Visto daqui, o Brasil não está menos desigual. </span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /><a href="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TLrmK1tQgDI/AAAAAAAABkM/60JmJOM9JGg/s1600/foto_256-1.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 296px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TLrmK1tQgDI/AAAAAAAABkM/60JmJOM9JGg/s400/foto_256-1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5528984566440689714" border="0" /></a><br /></div><div style="text-align: justify;">Astrid já passou dos 70 anos e vive sozinha no maior apartamento do Copan há mais de 30, com o mesmo conforto: <span style="font-style: italic;">“Tenho três quartos, uma sala, duas casas de banho, cozinha, área de serviço, quarto e casa de banho de empregada. São 216 metros quadrados”</span>, conta.<br /><br /><span style="font-style: italic;">“Viver num edifício destes é como viver numa cidade do interior. <span style="font-size:130%;">O Copan é uma cidade de 5 mil habitantes. </span>É óbvio que não és amigo de toda a gente, é óbvio que tens problemas, mas há algumas características dos grupos que se formam ao longo do tempo que tornam o Copan muito parecido com uma cidade menor”</span>, acrescenta.<br /><br />A psicóloga aposentada não acha que a sua vida tenha mudado muito, embora considere que o Brasil mudou. As diferenças, diz, não têm diretamente que ver com a governação do Presidente Lula da Silva. <span style="font-style: italic;">“Acho antes que as mudanças têm que ver com um conjunto de medidas que ocorreram num momento histórico oportuno. E parece-me que muitas delas têm um viés muito importante”</span>, diz.<br /><br />Para Astrid, não há dúvidas de que é preciso diminuir a pobreza no Brasil mas “<span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">isso não se faz dando às pessoas dinheiro a troco de filhos, faz-se com educação ou então cria-se mendigos para o resto da vida”. </span></span><br /><br />Por isso, sustenta, vai votar em José Serra, candidato do Partido da Social Democracia Brasileira, <span style="font-style: italic;">“um homem com formação e com princípios”. </span><br /><br />Suzi não passou dos 30 há muito tempo e vive há quatro anos no apartamento mais pequeno do Copan, com o marido e com o filho a cumprir um sonho de adolescente.<br /><br /><span style="font-style: italic;">“Existe um certo deslumbramento com o Copan, dá um certo estatuto, sim. No meu caso nem há grande razão para isso, que moro num espaço de 26 metros quadrados, mas ainda assim gosto, orgulho-me”</span>, conta.<br /><br />A professora acha que <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“dizer que o Brasil está um país menos desigual seria um exagero”</span></span> porque <span style="font-style: italic;">“não é isso que se vê quando se sai à rua e se olha para a quantidade de gente que não tem onde dormir”. </span><br /><br />Com o Governo Lula sentiu <span style="font-style: italic;">“mais estabilidade, mais segurança” </span>porque viu no Presidente <span style="font-style: italic;">“a representação do povão, o fim dos magnatas na política”</span>. Ele foi o Presidente que ela esperava. <span style="font-size:130%;">A sua vida, diz, está mais ou menos como dantes, há meses de mais aperto, outros de menos, mas nada mudou radicalmente. </span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-57221208168284305102010-10-10T13:31:00.005+02:002010-10-10T13:50:36.283+02:00Warley é pirata. A culpa é de Lula da Silva.<div style="text-align: justify;"><span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">Warley Costa está vestido a rigor e tem os olhos pintados de preto. De chapéu na cabeça e espada na mão, é pirata e guia turístico na cidade colonial de Paraty, no Estado do Rio de Janeiro. A culpa, diz, é de Lula da Silva, que o incentivou a estudar.</span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /><a href="http://2.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TLGlCHAC0nI/AAAAAAAABjo/sDI9XALUNZ0/s1600/PIRATA_PARATY_TXT11536760+%281%29.JPG"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 268px; height: 400px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TLGlCHAC0nI/AAAAAAAABjo/sDI9XALUNZ0/s400/PIRATA_PARATY_TXT11536760+%281%29.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5526379673417863794" border="0" /></a><br />As visitas guiadas começam na praça de Santa Rita – <span style="font-style: italic;">“um cartão postal de Paraty, construído em 1722 pelos escravos libertos da época”</span> – ou no mar que invade os largos blocos de calçada das ruas levemente onduladas e sem fim ao fundo, sempre que a maré sobe.<br /><a href="http://1.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TLGmz0p2-4I/AAAAAAAABjw/cz8mKXRKV-o/s1600/PIRATA_PARATY_TXT11536760+%287%29.JPG"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 268px; height: 400px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TLGmz0p2-4I/AAAAAAAABjw/cz8mKXRKV-o/s400/PIRATA_PARATY_TXT11536760+%287%29.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5526381626998061954" border="0" /></a><br /><span style="font-style: italic;">“Era também aqui que na época eram comercializados os escravos, o café e o açúcar. O </span><span style="font-style: italic;">chafariz que tenho ao meu lado era usado pelos escravos para abastecerem as casas de água”</span>, conta.<br /><br /><span style="font-size:130%;">Warley diz que estar em Paraty é poder fazer uma viagem no tempo.</span> A cidade, garante, <span style="font-style: italic;">“é o conjunto arquitetónico mais bem conservado do país”.</span> Os 30 mil habitantes vivem do turismo e da pesca.<br /><br />Visto pelos olhos pintados de preto, o Brasil teve em Lula da Silva o seu melhor presidente: <span style="font-style: italic;">“Há menos fome, ninguém apostou na Cultura como Lula e ele deu também às pessoas muitos incentivos para estudarem”</span>, defende.<br /><br />Warley é artista de rua em Paraty desde 2004 porque o programa governamental de distribuição de rendimento Bolsa Família – que lhe dá 170 reais (78 euros) por mês para ajudar na educação e na alimentação dos dois filhos pequenos – lhe permitiu fazer um curso de teatro gratuito. A vida avança, as pessoas têm mais trabalho, mais formação, dão melhores condições às crianças.<br /><a href="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TLGoHEig3UI/AAAAAAAABj4/qeW-cW2BsTA/s1600/PIRATA_PARATY_TXT11536760+%286%29.JPG"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 268px; height: 400px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TLGoHEig3UI/AAAAAAAABj4/qeW-cW2BsTA/s400/PIRATA_PARATY_TXT11536760+%286%29.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5526383057191361858" border="0" /></a><br /><span style="font-style: italic;">“Tenho 32 anos e dois filhos, um de três anos, outro de dez. Com o dinheiro do Governo compro material escolar para o mais velho, roupa, alguma coisa de que ele precise. Ao mais pequeno compro frutas, legumes para que ele possa ter uma alimentação mais variada”</span>, conta.<br /><br />Nas eleições presidenciais, Warley vai anular o voto porque Lula não se recandidata e porque <span style="font-style: italic;"><span style="font-size:130%;">“o Brasil não se cura da corrupção”.</span> </span>O artista não encontra uma solução para o problema mas tem uma ideia muito clara sobre a sua origem.<br /><br />A culpa, diz, é da semente portuguesa, que ficou aqui ao sol: <span style="font-size:130%;"><span style="font-style: italic;">“Na época da colonização portuguesa do Brasil vieram para cá os degredados, os criminosos, a escória. E são essas pessoas que continuam no Governo brasileiro até hoje e roubam o povo”. </span></span></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-10346193.post-92005521292062251162010-10-09T00:28:00.003+02:002010-10-09T00:38:59.401+02:00Eris trabalha numa fazenda e acha que Lula olhou para as duas partes do Brasil<div style="text-align: justify; font-style: italic;"><span style="font-size:130%;">Eris Gomes trabalha “para o patrão” há dez anos, numa fazenda no Pantanal, no Estado do Mato Grosso do Sul. De trator encostado à beira da Estrada Parque, conta que Lula da Silva foi muito bom para os pobres.<br /></span></div><br /><a href="http://3.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TK-cynUbniI/AAAAAAAABjg/7tcgNCVQaTQ/s1600/TRABALHADOR+FAZENDA_TXT11534701+%284%29.JPG"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 225px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_LeobKX7vF48/TK-cynUbniI/AAAAAAAABjg/7tcgNCVQaTQ/s400/TRABALHADOR+FAZENDA_TXT11534701+%284%29.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5525807661168959010" border="0" /></a><br /><div style="text-align: justify;">O operador de trator esteira diz que não está <span style="font-style: italic;">“muito por dentro da política”, </span>mas considera que ao trabalho de Lula da Silva como Presidente do Brasil <span style="font-style: italic;">“é preciso tirar o chapéu”</span>.<br /><br /><span style="font-style: italic;"><span style="font-size:130%;">“O Brasil mudou muito. O Lula trabalhou bem. Não puxou só para o lado das classes altas. Foi um Governo que olhou para as duas partes. Foi um plano muito bom para os pobres”</span>,</span> disse. <br /><br />Aqui, o Presidente fez chegar a energia elétrica, com o programa <span style="font-style: italic;">“Luz para todos”,</span> que beneficiou, de acordo com números oficiais, mais de 11 milhões de brasileiros dos meios rurais.<br /><br />Agora as coisas são mais fáceis. A vida, diz Eris, corre-lhe bem: <span style="font-style: italic;">“No Pantanal você deita-se e esquece-se do mundo. E o ordenado que ganho dá para viver tranquilo”</span>.<br /><br />Ganha em média 1200 reais (550 euros), sustenta a mulher e a filha, que estuda em Maracaju, a 500 quilómetros. Com o patrão dá-se bem: <span style="font-style: italic;">“Se o virem dizem que é empregado. É gente boa, come na mesa com você, o que você come ele come”. </span><br /><span style="font-size:130%;"><br />Para ele, a classe trabalhadora está bastante contente com o Brasil de hoje. Eris tem televisão, telefone e rádio amador, sente-se confortável, satisfeito. <span style="font-size:180%;">O resto que falta, se falta, é preciso perguntar aos patrões. </span></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0