sexta-feira, fevereiro 08, 2008

A minha avó.

A minha avó é gira.
Tem um sorriso de boca aberta, só com dois dentes.
Giro.
Tem as mãos como as de todas as avós: macias.
Usa camisas e chinelos e xailes iguais às das avós dos outros.
Mas tem uns olhos que são só dela.
Tem os olhos cheios de curiosidade.
Passa o dia sentada em frente à televisão e manda no mundo com aquele comando.
Há idades em que se pode mandar.
E ela manda que nunca se levanta antes das duas.
Mas «nunca dorme, nunca dorme».
«Descansa os olhos» que, já se sabe, ressonam.
Gira.
Usa o cabelo cinzento, todo penteado para trás, preso com dois ganchos modernos.
A minha avó tem um telemóvel, uma telefonia e um aparelho no ouvido.
É gira e tem o que ela quiser.
E tem comprimidos. Muitos.
Gosta de dizer que toda a vida tem sofrido. E suspira, e suspira.
Troca as palavras complicadas.
É gira.
E é gulosa. E gira.
E é minha avó.

Parabéns, Catarina.

Pequenina, pequenina.
Catarina.
Condensada. Sagaz.
Catarina.
Não anda, dá pulinhos.
Pequenina, a puxar para o franzina.
Catarina.
Distraída. Gaiteira.
De malinha, pequenininha, pendurada na mão de unhas vermelhas.
Catarina.
Sorriso de franja tímida.
Menina.
Pequenina, franzina, Catarina.