segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Brilho apertado

Abu Dhabi ainda não tem o brilho que merece uma capital. O Dubai, todo sorrisos e piscares de olhos ao Ocidente, ultrapassou-a pela direita, e fez-se num deslumbrante parque de diversões para adultos estrangeiros, bonitos e de bolsos cheios.

Na capital sabe bem o azul todo que é a Corniche, a estender-se, larga e comprida, pela costa: o seu chão desenhado mais o mar à esquerda, o céu por cima e o sol a deitar-se ali ao fundo. Têm graça as mulheres, tapadas até depois das pestanas, a andar ou a correr, calçadas com ténis do Ocidente em baixo disso tudo.

Em Abu Dhabi sabe bem a falta de arrumação à direita desta avenida: os prédios escuros, com pinturas estaladas e persianas partidas; os cheiros da vida de todos os dias; as pessoas de verdade, com as unhas encardidas do trabalho, e as roupas amarrotadas pelo aconchego que é dividir um quarto por cinco; as mercearias a cair de velhas; o homem da mercearia a fazer contas para pagar a mensalidade do empréstimo para a bicicleta; um afegão que não vi, mas que dizem que faz todos dias pão paquistanês, de cócoras, em cima de um forno: a vida crua, sem polimentos e poses para agradar.

Abu Dhabi quer seduzir o Mundo mas ainda não aprendeu a ser sexy: o que o outro sufoca com luxo, esta sufoca com apertos.

Por um euro fui a visitante número 172665 da praia de Abu Dhabi. Antes disso fui uma cabeça confusa até perceber em qual das praias devia entrar, tendo um homem de mão dada comigo. Os homens e as mulheres vão a praias separadas; a delas é privada e eles não entram a menos que venham em família. Para efeitos de arrumação balnear, percebemos então, um homem e uma mulher juntos são uma família.

Antes da areia branca e fina, e da água morna e transparente, é preciso garantir conformidade para com as regras do paraíso, sob pena de forçar as autoridades a «desencadear acções legais, de acordo com a lei contra os infractores».

Para não testar a eficiência das autoridades basta «não nadar nu; não pescar; não fazer fogo; ser decente e respeitar os direitos dos outros; não andar de bicicleta ou de skate nas zonas reservadas as peões; não jogar críquete; não montar tendas; não levar animais; não espalhar lixo pelo chão; tomar conta das suas crianças; não ouvir música alto; não consumir álcool , nem escrever nas paredes». E dá jeito ainda ter em mente que estas são as regras gerais, pelo que as há particulares também.

Por via das dúvidas é fazer como os autóctones: aguentar o calor embrulhado em roupas e molhar as canelas ao de leve, sem excessos ; e já agora, tomar precauções de turista: sacudir a areia dos pés e não se demorar tempo nenhum por ali.

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