
Na linha da costa junto ao porto de recreio de Sines, há dezenas de caravanas ilegalmente estacionadas num parque de terra batida. De portas abertas, com gente a entrar e a sair, convidam à conversa e à festa.
[fotografia de Vítor Martinho]

Richard Sneelling, holandês de 55 anos, pela quinta vez em Sines para assistir ao FMM, vem para “ouvir artistas de muita qualidade que fazem uma música ecléctica, genuína, plural e demarcada dos sistemas comerciais, num ambiente descontraído e amigável”.
“Há sempre grandes surpresas na escolha dos grupos e parece que cada vez é melhor”, diz.
Tineke e Don Mun Smith, também holandeses e fãs do festival, “fazem da caravana casa durante esta semana” e garantem que “ninguém faz caso de que o local onde estacionaram não seja exactamente autorizado”: “faz parte de ser português ser descontraído, também adoramos isso”, sorriem.

“E é um festival que democratiza a música: é barato, todos podem chegar-lhe”, acrescentam.
Da mesa a que se sentam os três holandeses saíram há pouco Sónia e Nuno Marques e Rui Simões, “acabados de assentar arraiais, vindos de Carnaxide”, arredores de Lisboa.
“Ouvimos o Tineke tocar acordeão e não resistimos. Agarrei no djambé e juntei-me a ele. É isto o festival, esta fusão, esta energia positiva, este sentimento de comunidade”, explica Nuno.
[fotografia de Vítor Martinho]

A mesa volta a encher-se com os bhaji de cebola que John Vendi, inglês, vem vender por um euro.
“É um petisco tradicional do Paquistão. A minha mulher é paquistanesa, cozinha-os e eu vendo-os. Somos conhecidos em muitos festivais”, garante. A mesa confirma o talento apregoado.
“A música é a primeira ligação entre as pessoas, o resto vamos fazendo a cada minuto, com os vizinhos das outras caravanas, com as pessoas na rua ou no mercado”, considera John.
[fotografia de Vítor Martinho]

A família que decide, para esta entrevista, chamar-se Gonzalez tem oito elementos – fora os cães, que ninguém arrisca contar –, dos dois aos 60 anos e está instalada num atrelado que foi inicialmente concebido para transportar cavalos.
O ancião da família reconhece que se apercebeu de que não era “muito legal estacionar aqui”, mas “presumiu que, sendo o espaço perto da polícia, toda a família estaria segura”.
[fotografia de Vítor Martinho]

“É maravilhoso o espírito de comunidade. Há pouco alguém deu almoço ao meu neto e veio agradecer-me por ter podido brincar com ele um par de horas”, conta. “Sinto-me em casa”.
O inglês dos pés sujos, cuja língua tropeça no álcool e enrola a fala, conta, sentado num sofá vermelho roto e encardido, que “houve um ano em que a polícia veio pedir para que se desmontassem as tendas mas quando percebeu o trabalho que ia dar desistiu e juntou-se à festa”.

Com o somar das horas chegam mais festivaleiros e o cenário multiplica-se pela extensão do parque de terra batida que está cada vez mais cheio.
Em cima, no Castelo, Sines, com cada vez mais mundo na barriga, não deixa a música parar.
3 comentários:
Também andei por lá! A fazer crescer um pouco mais essa barriga de música e sorrisos. E como tenho na bagagem já muitos anos para comparar, posso dizer que este 2009foi dos melhores FMM!
Agora é só esperar por 2010 para superar ...
Óptimo de ler este post!
beijinho oh jornalista;)*
Só boas energias :)
Lindas as fotografias!
E olha criei um espacinho meu pra ir partilhando algumas coisas..
Beijo grande*
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