terça-feira, janeiro 13, 2009

Prólogo, Bom dia, Dubai! ou a questão essencial da coisa

Chegou quando isto era tudo só areia. Ajudou a erguer alguns dos edifícios que por todo o lado ofuscam e esmagam: pelo brilho, pelo luxo, e pela grandeza desmedida.

Debaixo dos seus pés, uma faixa pedonal de uma ponte sobre o mar, com uma marina entupida de iates, à direita. À sua volta é tudo limpo, arrumado e ostensivo. E de todas as portas para dentro, o Dubai cheira a novo. Cá fora tem o eco compreensível de 25% das gruas de todo o mundo e mais meio mundo a pôr extravagâncias de pé.
Abu Jafar Molid Salch nasceu no Bangladesh, tem 43 anos e é engenheiro civil. Caminha ao lado do seu irmão, 15 anos mais novo, e interpela-me, entre a muita vergonha e o desculpe-me-a-ousadia: “Menina, desculpe. Peço desculpa, mas será que pode tirar-nos uma fotografia? Vim visitar o meu irmão e queria uma recordação deste dia. Importa-se?”

A fotografia custou-lhe todas as perguntas que eu tinha na cabeça depois do primeiro passeio sozinha.

Os árabes são muito preguiçosos: dormem e pavoneiam-se. O Governo enche-os de subsídios. É sustentável porque eles são menos de 20% da população do Dubai”, explica-me.

Trabalhou no Dubai durante 18 anos e mudou-se há dois para Abu Dahbi, a 150 quilómetros daqui.

Os árabes não nos tratam exactamente como pessoas”, lamenta.

“Com os imigrantes, a conversa é muito diferente: dizem-me que não preciso de mais dinheiro porque sou do Bangladesh. Os ordenados são muito injustos. Eu ganho 5 000 dirames (1 000 euros) a trabalhar como engenheiro, oito horas por dia, com uma folga semanal; nenhum árabe – e apenas por ser árabe – ganha menos de 20 000 dirames (4 000 euros).”

Molid Shahidul Islam, seu irmão, é empregado de limpeza num hotel ali perto. Ganha 600 dirames (120 euros) por mês e manda metade para a família.

Dormem em instalações da responsabilidade das empresas para as quais trabalham, mas, como é regra no mundo, longe das zonas de brilhos.
Também aqui o centro é só dos cabelos arranjados, dos saltos altos e dos carrões. Os feios – vindos da Índia, Paquistão, Sri Lanka, Nepal e Filipinas – ficam de uniforme, com uma vassoura numa mão e uma pá na outra ou por aí, a saber de que precisam os bonitos.
A moral da estória – e da história – é que a moral se compra. O Governo tem, invariavelmente, do seu lado – para além do dinheiro – o chavão do quem-está-mal-que-se-mude. No seu país estariam – ninguém pode dizer que não – pior, muito pior.

1 comentário:

ALVARO disse...

I LOVE YOU