Jucilene tem 33 anos, cinco filhos pela mão, um na barriga, “cada um tem um pai”. Olha para o Brasil do cimo do morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. Diz que Lula da Silva, o Presidente sindicalista, melhorou a vida dos pobres mas que a mesa da sua casa continua vazia muitas vezes por mês.
Jucilene tem o cabelo crespo, negro, como a pele, que faz parecer mais viva a t-shirt laranja que veste. Tem um nariz grande, redondo, triste como os olhos, cheios de vergonha.
A família vive numa casa arrumada numa rua estreita, perto do topo do morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. A vista é paradisíaca, de luxo, com encanto de telenovela. A vida nem por isso.
Jucilene está desempregada, ajuda o marido, que é artesão, na pintura das pequenas peças de madeira que reproduzem ícones da cidade – dos arcos da Lapa aos bondinhos – e que depois ele vende pelas ruas aos turistas.
A família vive numa casa arrumada numa rua estreita, perto do topo do morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. A vista é paradisíaca, de luxo, com encanto de telenovela. A vida nem por isso.
Jucilene está desempregada, ajuda o marido, que é artesão, na pintura das pequenas peças de madeira que reproduzem ícones da cidade – dos arcos da Lapa aos bondinhos – e que depois ele vende pelas ruas aos turistas.
Às vezes, ela toma conta de crianças em casa. Por estes dias próximos das eleições, ele trabalha para um partido em campanha.
Numa casa onde comem sete bocas todos os dias entram em média 300 reais por mês (137 euros), 120 são dados pelo programa de distribuição de rendimentos do Governo, Bolsa Família, que beneficia hoje quase 13 milhões de famílias brasileiras. Com o dinheiro que o Governo dá, Jucilene faz “a única coisa que a gente pode fazer, umas compras, o que dá com o que há”. Compra leite ou fraldas para as crianças.
Com Lula da Silva na Presidência, não tem dúvidas, “a vida melhorou”: “Melhorou bastante, não tenho de que reclamar. É bom porque as coisas não estão tão caras”, diz.
Ainda assim, não há nada que Jucilene consiga pôr a mais na mesa do que há oito anos atrás, a mesa continua vazia muitas vezes por mês.
“O domingo em família é triste. Às vezes não há nada na mesa. Às vezes há um arroz e feijão, não há carne. Para mim o domingo não existe. É mais triste do que um dia de semana, não há trabalho, você tem que ficar dentro de casa… Fica triste”, conta.
Jucilene desce poucas vezes do morro para ir à cidade. Às vezes pelo Natal, mas nem sempre. O Brasil que vê é o que a vista alcança do cimo do burburinho veloz e desengonçado das ruas da favela onde vivem 70 mil pessoas. E é bom, gosta, não consegue sair.
1 comentário:
Há pessoas que matam para viver em bairros luxuosos com uma vista similar à desse morro. Há quem viva com a morte entre eles, não conseguindo, sequer, ver para além do sufoco diário, não obstante a trágica beleza do horizonte.
O mundo tratou de exacerbar estes paradoxos nas últimas décadas e Lula, embora com motivos políticos e de perpetuação no poder, ajudou a dignificar (um pouco) algumas destas vidas de exclusão.
Mas dificilmente alguém conseguirá salvar e mudar os olhos tristes a quem não é permitido ter dignidade social.
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