sexta-feira, janeiro 22, 2010

Cacilhas, a cabra, o moinho e o jornal

A sala do edifício entre as curvas de séculos a debruçarem-se sobre o rio tinha umas 100 pessoas viradas para o Tejo, a ouvir autarcas e arquitectos.

Os cacilhenses estão desde 1999 à espera de um plano de pormenor que lhes arrume a terra.

Parece que agora é que vai e, garante a mão do desenho, “a freguesia será a porta da cidade”.

Diz que vai ser por este lado do rio que Almada vai sorrir a quem chega, que é por aqui que se entra.

Na terceira fila, uns caracóis brancos a tocar nos ombros de um casaco grosso. Uma mulher que é daqui levantou-se para falar.

Primeiro não precisava de microfone, que a voz do coração faz eco e ouve-se bem.

Mas depois, “façam o que quiserem a Cacilhas mas não nos levem o moinho”.

A senhora que nunca se virou para as filas de trás esticava o braço, apontando as saias da sua infância.

“Sou do tempo em que ao lado do moinho havia uma cabra. Eu dei pedaços de jornal àquela cabra ao lado do moinho. E ela comeu”.


Parece que para a cabra já não há remédio, que se foi de madura, mas o moinho de quando aqueles caracóis eram loiros ficou prometido.

2 comentários:

Cristina Nico disse...

Olá menina azul!

Como sempre encantam-me os frescos que retratam a humanidade nos seus traços mais frágeis... Lindos!
Beijinhos

Cristina Nico disse...

Menina azul,

Encantam-me os teus "frescos"... apanhas os traços mais frágeis ou mais fortes da nossa pequena/grande humanidade...

Beijinhos!