O acampamento 08 de março, de militantes do Movimento dos Sem Terra (MST), está na berma de uma estrada a vinte minutos da cidade de Corumbá, no Estado do Mato Grosso do Sul, “na luta”, ao sol, “à espera de uma pedaço de terra para cultivar”.
As cerca de 60 famílias de militantes do MST estão acampadas no chão vermelho da berma de uma estrada que conduz ao Pantanal há mais de seis meses. Todas têm casa a poucos quilómetros, nas cidades de Corumbá e de Ladário. Há tendas improvisadas com troncos finos e lençóis de plástico preto grosso e duas bandeiras hasteadas: a do Brasil e a das ideias.
Há jerricãs, cavalos, cães e galinhas. Há militantes de pele morena e chinelos nos pés, uns a trabalhar, outros à sombra, a conversar e a beber tereré [uma bebida de origem guarani, feita com a imersão da erva-mate].
Miriam e Anderson são coordenadores do acampamento. A mulher explica que “até chegarem onde querem chegar, as famílias [aqui representadas] têm que passar por um processo doloroso, longo, por muitas dificuldades”.
O homem – rapaz, ainda – fala pouco, mas ela fala por ele: “Tenho sete filhos, nenhum deles aqui comigo. Deixei a minha família para estar aqui. Esta é minha nova casa. Não temos crianças na comunidade porque ainda não conseguimos organizar-nos para que os meninos possam ter aulas”, explica.
São eles a voz desta “família grande que se juntou na luta”. Têm a tarefa de dialogar com a autarquia e com outras entidades para conseguirem benefícios para a comunidade. São eles que vão articular-se com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária até que se encontrem na região fazendas que possam ser desapropriadas e divididas em parcelas de terreno, que serão distribuídas pelos militantes e depois cultivadas. O processo pode demorar entre um e cinco anos.
Pelas contas do MST, existem pelas bermas das estradas do Brasil 90 mil comunidades com esta.
A coordenadora explica ainda que “há alguns militantes que trabalham na cidade e só vêm ao acampamento quando têm folga e outros, como é o seu caso, que permanecem e vivem com a cesta básica de alimentos que o Governo dá”.
Estar aqui, diz, “é maravilhoso, os dias são gostosos”, e é imprescindível: “Tem que ficar aqui, não tem que abandonar, tem que correr atrás até conseguir. Esse é o objetivo”, acrescenta.
Sentado num banco baixo, sem costas, Elisiomar Rodrigues da Silva conta que nasceu e cresceu numa fazenda: “Vim para aqui por causa da falta de emprego na. As máquinas estão a tomar o nosso espaço na fazenda, a empurrar-nos para a cidade”, diz. Tem cinco filhos entre os nove e dois anos. A família não está no acampamento e Elisiomar sente saudades mas está certo de que se não for ele a lutar pelos filhos, não há quem lute.
O seu objetivo é “arrumar uma terrinha para criar as crianças sem depender dos outros”: “O lucro que a gente dá para o patrão é o prejuízo que a gente toma, que a gente sai de madrugada e não tem horário para voltar”, considera.
Quando tiver um pedaço de terra vai “plantar uma mandioca, um milho, um feijão, que é a comida do pobre. Mas sem depender de patrões porque só nos querem enquanto temos saúde. Quando se perde saúde deixa-se de se ser bom”.
No acampamento, garantem, “é tudo gente humilde”, que precisa de terra, que quer trabalhá-la.
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