Deuvek Mateus, 52 anos, é camponês, militante do Movimento dos Sem Terra (MST), e vive há 26 anos num assentamento que ajudou a erguer depois de ocupar o terreno com outras 300 famílias. Tem cinco filhos, todos licenciados. Agora foi a sua vez de vir à escola.
O camponês está na Escola Nacional Florestan Fernandes, do Movimento dos Sem Terra, a fazer uma licenciatura em Geografia. O curso é uma parceria entre a escola do MST e a Universidade Estadual Paulista e é reconhecido pelo Governo brasileiro. Deuvek Mateus escolheu Geografia por considerar que “as disciplinas se ligavam ao [seu] percurso dentro do movimento e seriam úteis à comunidade” em que vive: “Interessam-me sobretudo as questões relacionadas com organização dos assentamentos [cooperativas plurifamiliares de produção agrícola]”, conta.
Durante cinco anos, o tempo da licenciatura, Deuvek vai dividir-se entre “tempo escola” e “tempo comunidade”, tempo da teoria e tempo da prática. “Chama-se pedagogia da alternância, assim o conhecimento flui e cresce”.
Este camponês passou, com a sua família, pelo processo que as mais de 90 mil famílias acampadas à beira de estradas por todo país esperam passar. Hoje, diz, as 300 famílias do assentamento em que vive “estão numa fase bastante consolidada”.
“É uma comunidade organizada do ponto de vista social. Apesar de cada uma ter a sua área para produzir há todo um processo de cooperação na vida social, e também na produção. Os trabalhadores utilizam equipamento coletivo e planeiam a produção em conjunto”, conta.
As famílias já construíram as suas casas, existe um posto de saúde, energia elétrica, e produz-se feijão, arroz, milho, verduras, frutas e leite. Além de garantir a subsistência das 300 famílias da comunidade, a cooperativa agrícola coloca produtos no mercado e gera receita.
Antes de chegar aqui, “a vida da comunidade foi dura”. O camponês passou vários anos sem ter dinheiro para comprar sequer um chocolate para os filhos. Não se arrepende. Acredita que é na reforma agrária que está a chave para o desenvolvimento do Brasil.
Deuvek defende que a ocupação de terras é uma ação política, organizativa e socioeconómica. E explica: “Podemos dizer que é uma ação do ponto de vista político, porque questiona o latifúndio, que é uma ação organizativa, porque é daí que nasce a organização, mas também que é uma ação do ponto de vista socioeconómico, porque responde às necessidades básicas das famílias e dos trabalhadores sem terra do Brasil”.
Não há, argumenta, outra forma de o país avançar: “Só a reforma agrária vai permitir resolver os problemas estruturais do Brasil como o desemprego, a falta de alimentos e a questão ambiental”.
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