Já passámos por esta amálgama de casas à beira de ruas exíguas, esburacadas, sujas e lamacentas. Já vimos, noutras letras, este novelo clandestino que ganhou forma com o suor que veio depois da vontade de uma vida melhor e que inchou com a droga, o álcool, o desemprego, a criminalidade, as gravidezes de adolescentes, o abuso de menores e a violência doméstica.
Sabemos que estamos no gueto que se fez o bairro do Segundo Torrão, na Trafaria, em Almada, onde vivem mais de 300 famílias, sobretudo imigrantes.
Podíamos vir de olhos fechados, e saberíamos que estamos aqui. Pela lama, que acolhe os sapatos a cada passo, pelo cheiro a álcool de todos os cafés e pelo cansaço na voz de todos os que aqui vivem.
“O inferno do inverno já começou. As ligações de electricidade são tão clandestinas como o resto do bairro, não aguentam luzes e aquecedores ligados em simultâneo. Chegamos a estar quatro dias sem luz de cada vez que há quebras”, ouve-se num sotaque angolano.
Rogério Nazaré, homem alto, corpulento, de olhos grandes e redondos, é presidente da associação de moradores do bairro.
“Temos uma dívida de perto de 280 mil euros à EDP distribuição, que a anterior associação de moradores não conseguiu pagar. Queremos ser a parte da solução, não a parte do problema, mas precisamos que se sentem à mesa connosco”, explicou.
“Estou muito cansado”, desabafou. “Preciso as entidades envolvidas no anterior contrato tenham em conta que no inverno as pessoas têm necessidade de se proteger do frio” e por isso, argumentou, “há que encontrar uma solução urgente que previna a repetição destes episódios”.
“Precisamos que percebam que cada dia entre a demolição e o realojamento é um dia de vida de milhares de pessoas. Sabemos que somos um doente em estado terminal. Só estamos a pedir uma morte com dignidade”, acrescentou.
“As pessoas aqui não vivem, sobrevivem”.
A frase é de Rogério mas podia ser de André Adriano, guineense baixo, feições miúdas, a viver no bairro há 18 anos.
“Nada melhorou desde que cheguei aqui. Este é um bairro vergonhoso. Ninguém que viva aqui diz a todas as pessoas onde mora, só aos amigos mais chegados. As crianças são discriminadas na escola. Parece que morar no Segundo Torrão é ter alguma doença que se pega”.
“Quando chove há pessoas que levam dois calçados, um até à paragem do autocarro, outro que calçam ali – o calçado social – para levarem para a cidade”, contou.
A Câmara Municipal, a Junta de Freguesia e a EDP distribuição concordam com a necessidade de se prevenir estes episódios. Nenhuma das entidades avança datas ou assume compromissos.
Vendo o copo meio cheio, talvez faça jeito que sejam 300 famílias apertadinhas num gueto. Pode ser que assim, passando pelo escurinho do inverno umas coladas às outras, não vejam o frio chegar.
Sabemos que estamos no gueto que se fez o bairro do Segundo Torrão, na Trafaria, em Almada, onde vivem mais de 300 famílias, sobretudo imigrantes.
Podíamos vir de olhos fechados, e saberíamos que estamos aqui. Pela lama, que acolhe os sapatos a cada passo, pelo cheiro a álcool de todos os cafés e pelo cansaço na voz de todos os que aqui vivem.
“O inferno do inverno já começou. As ligações de electricidade são tão clandestinas como o resto do bairro, não aguentam luzes e aquecedores ligados em simultâneo. Chegamos a estar quatro dias sem luz de cada vez que há quebras”, ouve-se num sotaque angolano.
Rogério Nazaré, homem alto, corpulento, de olhos grandes e redondos, é presidente da associação de moradores do bairro.
“Temos uma dívida de perto de 280 mil euros à EDP distribuição, que a anterior associação de moradores não conseguiu pagar. Queremos ser a parte da solução, não a parte do problema, mas precisamos que se sentem à mesa connosco”, explicou.
“Estou muito cansado”, desabafou. “Preciso as entidades envolvidas no anterior contrato tenham em conta que no inverno as pessoas têm necessidade de se proteger do frio” e por isso, argumentou, “há que encontrar uma solução urgente que previna a repetição destes episódios”.
“Precisamos que percebam que cada dia entre a demolição e o realojamento é um dia de vida de milhares de pessoas. Sabemos que somos um doente em estado terminal. Só estamos a pedir uma morte com dignidade”, acrescentou.
“As pessoas aqui não vivem, sobrevivem”.
A frase é de Rogério mas podia ser de André Adriano, guineense baixo, feições miúdas, a viver no bairro há 18 anos.
“Nada melhorou desde que cheguei aqui. Este é um bairro vergonhoso. Ninguém que viva aqui diz a todas as pessoas onde mora, só aos amigos mais chegados. As crianças são discriminadas na escola. Parece que morar no Segundo Torrão é ter alguma doença que se pega”.
“Quando chove há pessoas que levam dois calçados, um até à paragem do autocarro, outro que calçam ali – o calçado social – para levarem para a cidade”, contou.
A Câmara Municipal, a Junta de Freguesia e a EDP distribuição concordam com a necessidade de se prevenir estes episódios. Nenhuma das entidades avança datas ou assume compromissos.
Vendo o copo meio cheio, talvez faça jeito que sejam 300 famílias apertadinhas num gueto. Pode ser que assim, passando pelo escurinho do inverno umas coladas às outras, não vejam o frio chegar.
1 comentário:
Querida Joana
O prometido é devido. Aqui estou eu a visitar-te no teu cantinho.
Gosto do que escreves e como escreves. Também eu conheço essa situação que descreves e muito valorizo trazeres aqui esse assunto que urge ser resolvido.
Que seja em 2010 quando a Europa declara... "Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social"...
Não poderias ter sido mais oportuna...
Que tenhas um excelente Ano de 2010.
Beijinho.
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