O bairro é feio na medida dos outros todos. Está sujo, desarranjado, é um quadro torto numa parede bolorenta, de tijolo mole e tinta estalada. A família vive remediada, como remediadas vivem as vizinhas, a esticar orçamentos enquanto tentam que haja um patrão a aceitar feios ao serviço.
A casa, de portas logo abertas, cheira ao cão que foi fechado na varanda e que pede para entrar com as patas na porta de alumínio.
A família Viegas Prazeres vive em habitação social no Bairro de Santo António, no Laranjeiro, e está, garante, a ser “perseguida e mal tratada” pelos serviços de protecção de menores, “que ameaçam levar os três filhos” do casal.
Num lar empanturrado de mobílias e arrumado com o jeito português do cá-se-vai-andando, José Viegas, 46 anos, e Vera Prazeres, 29, vivem com Maria da Guia, 10 anos, Ana Lúcia, 8, e Marco António, 6, todos “fruto de um lindo amor”.
Os meninos estudam e os adultos estão desempregados. Os cinco vivem, “com 600 euros por mês, há quase quatro anos”.
“Luxos às crianças não dou porque não posso, somos um casal pobre. Mas estes meninos não passam mal e amor e carinho não lhes faltam”, garante José, cabelo farto e grisalho, mãos grossas, encardidas e boca sem dentes.
Na cozinha, por onde entra um fio de uma luz dourada e tépida, de fim de tarde, percebe-se carinho. Vera, baixa e magra, cabelo longo e claro e grandes olhos azuis, divide-se entre esta conversa e as solicitações dos três garotos.
Há molduras dos meninos em cada espaço livre, e colados com híman ao frigorífico estão os horários escolares.
José e Vera dizem-se “com medo de perder as crianças”, depois “das ameaças que a polícia e a protecção de menores têm feito”.
Garantem que “a polícia vai para onde vão” e contam episódios em que “a assistente social foi brusca e agressiva” e em que “a polícia não teve respeito nenhum” por eles.
“O agente disse para nos calarmos, para assinarmos aquele papel, que nem lemos, ou levavam os miúdos. Fomos completamente enxovalhados em frente a toda a gente e esse não foi o único episódio”, contam.
José afirma que não sabe “em que se baseiam para terem este comportamento”: O casal recolheu, “para se defender”, 59 assinaturas de moradores do bairro que “garantem” que eles “tratam bem as crianças”.
A ideia é “entregar o papel a um juiz, ou assim”: “Queremos defender-nos mas não sabemos como ou a quem havemos de nos dirigir, estamos com medo”, afirmam.
Perto do prédio onde vive a família, miúdos que brincam na rua, e que têm idades próximas às dos filhos de José e Vera, confirmam que “se vê muitas vezes a polícia ali à porta”.
“Pode ser porque eles às vezes vão procurar sucata com o pai ou porque às vezes estão sozinhos. Mas nunca estão sozinhos muito tempo”, arrisca um.
Assunção dos Anjos, septuagenária alentejana, vizinha da família, garante que “os meninos passam sempre para um beijinho, são educados, andam lavadinhos e não faltam à aulas nem andam na vadiagem”.
Para ela, “essas denúncias são mais a fama que a rama. São maledicência de quem não tem que fazer”.
No minimercado daquela rua as opiniões também são consensuais: “fartura em casa não há, é verdade, as crianças brincam na rua, é verdade. Quando brincam na rua sujam-se, é verdade. Mas isso não é diferente em família nenhuma”, defende a proprietária.
“Os miúdos estão bem tratados, estão gorduchos, os pais andam com eles para todo o lado. Tanto, que lhe chamamos o Zé peido e os seus peidinhos”, graceja.
A Comissão de Protecção de Menores de Almada entendeu não se pronunciar sobre a questão para “salvaguardar a privacidade da família”. Já a PSP, rejeitando as acusações, garantiu que “a Polícia de Segurança Pública respeita a lei e os cidadãos”, esclarecendo que “a actuação das autoridades foi feita conforme a solicitação das entidades públicas com competência na matéria”.
O certo é que “a polícia continua a parar-lhes à porta” e a assistente social não os “larga da mão”. Pode muito bem ser porque os feios amam menos bem.
A casa, de portas logo abertas, cheira ao cão que foi fechado na varanda e que pede para entrar com as patas na porta de alumínio.
A família Viegas Prazeres vive em habitação social no Bairro de Santo António, no Laranjeiro, e está, garante, a ser “perseguida e mal tratada” pelos serviços de protecção de menores, “que ameaçam levar os três filhos” do casal.
Num lar empanturrado de mobílias e arrumado com o jeito português do cá-se-vai-andando, José Viegas, 46 anos, e Vera Prazeres, 29, vivem com Maria da Guia, 10 anos, Ana Lúcia, 8, e Marco António, 6, todos “fruto de um lindo amor”.
Os meninos estudam e os adultos estão desempregados. Os cinco vivem, “com 600 euros por mês, há quase quatro anos”.
“Luxos às crianças não dou porque não posso, somos um casal pobre. Mas estes meninos não passam mal e amor e carinho não lhes faltam”, garante José, cabelo farto e grisalho, mãos grossas, encardidas e boca sem dentes.
Na cozinha, por onde entra um fio de uma luz dourada e tépida, de fim de tarde, percebe-se carinho. Vera, baixa e magra, cabelo longo e claro e grandes olhos azuis, divide-se entre esta conversa e as solicitações dos três garotos.
Há molduras dos meninos em cada espaço livre, e colados com híman ao frigorífico estão os horários escolares.
José e Vera dizem-se “com medo de perder as crianças”, depois “das ameaças que a polícia e a protecção de menores têm feito”.
Garantem que “a polícia vai para onde vão” e contam episódios em que “a assistente social foi brusca e agressiva” e em que “a polícia não teve respeito nenhum” por eles.
“O agente disse para nos calarmos, para assinarmos aquele papel, que nem lemos, ou levavam os miúdos. Fomos completamente enxovalhados em frente a toda a gente e esse não foi o único episódio”, contam.
José afirma que não sabe “em que se baseiam para terem este comportamento”: O casal recolheu, “para se defender”, 59 assinaturas de moradores do bairro que “garantem” que eles “tratam bem as crianças”.
A ideia é “entregar o papel a um juiz, ou assim”: “Queremos defender-nos mas não sabemos como ou a quem havemos de nos dirigir, estamos com medo”, afirmam.
Perto do prédio onde vive a família, miúdos que brincam na rua, e que têm idades próximas às dos filhos de José e Vera, confirmam que “se vê muitas vezes a polícia ali à porta”.
“Pode ser porque eles às vezes vão procurar sucata com o pai ou porque às vezes estão sozinhos. Mas nunca estão sozinhos muito tempo”, arrisca um.
Assunção dos Anjos, septuagenária alentejana, vizinha da família, garante que “os meninos passam sempre para um beijinho, são educados, andam lavadinhos e não faltam à aulas nem andam na vadiagem”.
Para ela, “essas denúncias são mais a fama que a rama. São maledicência de quem não tem que fazer”.
No minimercado daquela rua as opiniões também são consensuais: “fartura em casa não há, é verdade, as crianças brincam na rua, é verdade. Quando brincam na rua sujam-se, é verdade. Mas isso não é diferente em família nenhuma”, defende a proprietária.
“Os miúdos estão bem tratados, estão gorduchos, os pais andam com eles para todo o lado. Tanto, que lhe chamamos o Zé peido e os seus peidinhos”, graceja.
A Comissão de Protecção de Menores de Almada entendeu não se pronunciar sobre a questão para “salvaguardar a privacidade da família”. Já a PSP, rejeitando as acusações, garantiu que “a Polícia de Segurança Pública respeita a lei e os cidadãos”, esclarecendo que “a actuação das autoridades foi feita conforme a solicitação das entidades públicas com competência na matéria”.
O certo é que “a polícia continua a parar-lhes à porta” e a assistente social não os “larga da mão”. Pode muito bem ser porque os feios amam menos bem.
1 comentário:
Nice.
A história está excelente!... vais perdoar a minha falta de sensibilidade mas... "Zé peido e os seus peidinhos" é o que mais vou reter destas linhas. É mais forte do que eu.
Enviar um comentário