[A primeira fotografia é de Vítor Martinho]


O peso da vergonha com que se ergueu, entre 2003 e 2005, o monumento de Peter Eisenman à memória dos judeus da Europa assassinados contrasta com os gritos dos dois miúdos que se desafiam para um salto mais alto e mais longo do que o anterior entre cada estela.


Os caminhos que se cruzam rápida e permanentemente dentro de toda a grelha de cimento são, imagino quando quase choco com outros visitantes, ilustração da surpresa com que outros se cruzaram com a morte.
Ao fundo, um segurança alto, forte e loiro pede delicadamente às crianças que não subam para as estelas. “É um monumento de luto”, explica.
O centro de informação, situado a sudeste do monumento, esconde-se na terra para mostrar as caras que o luto cobre.
“Aconteceu, por isso pode acontecer outra vez, e é essencialmente isto que temos que dizer”, Primo Levi 1).

Lá dentro, o ambiente obedece ao luto do memorial. Tenso, com luz fraca.
As palavras de Tela, escritas num postal agora ampliado no chão e iluminado, foram uma das primeiras confirmações do extermínio em massa nas câmaras de gás.
Escreveu-as de Kutno, a 27 de Janeiro de 1942. O postal foi publicado em Fevereiro desse ano, no jornal comunista clandestino Morgnfrajast.
«Já vos escrevi num cartão o destino que nos persegue. Estão a levar-nos para Chelmno e a gasear-nos».
O silêncio é cortado pelos soluços que se ouvem entre cada carta ampliada e iluminada no chão.
As estimativas apontam para que tenham sido mortos cerca de 6 milhões de Judeus.
E o espaço é curto: «Dizer os nomes de todas as vítimas do Holocausto e contar todas as suas histórias de vida levaria cerca de seis anos, seis meses e 27 dias».
As estimativas apontam para que tenham sido mortos cerca de 6 milhões de Judeus.
E o espaço é curto: «Dizer os nomes de todas as vítimas do Holocausto e contar todas as suas histórias de vida levaria cerca de seis anos, seis meses e 27 dias».
1) Primo Levi nasceu em Turim, em 1919. Licenciou-se em Química, participu na Resistência contra a ocupação Nazi. Foi preso e internado no campo de concentração de Auschwitz. Escreveu, entre outras obras, “Se isto é um homem (1947)” com base na experiência que viveu. Suicidou-se em 1987.
1 comentário:
Querida Joana,
Mais uma vez me sensibiliza a tua atenção e empatia com a dor dos homens, com as injustiças e com tudo o que nos nivela abaixo, não digo da humanidade, pois seres vivos há que manifestam mais misericórdia, mas abaixo da vida.
Querida, que o teu sentido de justiça e a tua paixão pela vida permaneçam e se aprofundem.
Mil beijinhos!
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