
A paz da pintura quebra-se com a proximidade. Como em toda a curva do golfo pérsico, as obras ainda não terminaram: há barulho, muitos trabalhadores, tijolos, cimento e apetrechos mil. E há ainda, não sei hoje, se sempre, hordas de turistas a transpirar cuiosidade e histeria.

Os turistas vingam-se e levam-na toda nos cartões de memória. Não há azulejo que não fique no retrato. E merece; posso arriscar que até se faz à fotografia. A Grande Mesquita é vaidosa. Porque é árabe e porque pode. Fez-se – de mármore, ouro, pedras semi-preciosas e cristais – com pedaços do mundo todo – de Itália à Índia, passando por Marrocos, Grécia, Alemanha, China e EAU.
Cabem aqui, ao todo, dizem eles, 40 960 fiéis.
- “ Não há mais chadors – os trajes pretos que cobrem o corpo da maioria das mulheres muçulmanas – nem hijabs – os lenços que cobrem as suas cabeças – lavados. Usaram todos!”

- “Agora só usados”, acrescenta, enquanto encolhe os ombros e desvia o olhar para um saco de plástico transprente, de onde caem peças negras do avesso, com o uso de quem vai espreitar os dois salões – fotografá-los até ter cãibras nos dedos – e volta.

São centenas a entrar e a sair. Dezenas a parar no meio, para as fotografias. Milhares por dia, a brincar ao carnaval.
Paquistaneses e indianos estão arrumados como de costume: uns garantem a alvura e o brilho espelhado do chão, outros a segurança e o respeito (possível) pela santidade do local.
Na visita, eles vão mais ou menos à larga – “pede-se apenas que não vistam calções” –; elas vão todas embrulhadas.
Os sapatos ficam na linha do corredor que conduz à entrada. O cheiro que sobra – e que sobra, e que sobra – fica na maior carpete persa feita à mão (7 000 metros quadrados), que cobre todo o chão da segunda sala, onde – e já que se põe as letras nas grandezas – está pendurado o maior candeeiro do mundo.
Os visitantes atropelam-se, perguntam, gritam, e voltam a fotografar.

Mais fotografias, poses, fotografias e poses, gritos, perguntas e atropelamentos. Todos fazem tanto para levar tudo que duvido que cheguem a ter tempo para ver alguma coisa.
Entre a multidão deambulante há guias que se distinguem pelas placas que agitam, em bicos de pés, de braços levantados.
- “A hora das orações está relacionada com os movimentos do sol”, explica, num francês amarrotado, uma guia tão anafada quanto coberta. “O calendário muçulmano é diferente do cristão. Contamos o tempo partindo do dia do Profeta. Estamos, por isso, no ano 1430.”
Os guias orientam os rebanhos e dão por findadas as visitas. Depois do meio dia a mesquita é só para quem vem fazer as suas orações.

Pelos vistos, Alá – o Deus dos “fanáticos-extremistas-intolerantes-e-todos-postos-no-mesmo-bolo-e-preconceitos-e-preconceitos...”– é um tipo calmo, que lida bem com a bandalheira. Gostava de ver o que faria a Nossa Senhora – “que é virgem e faz milagres” – com este circo de infiéis montado em Fátima.
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