Boca Ribeira fica perto da Calheta, no Concelho de S. Miguel. É das zonas mais pobres da ilha de Santiago. Fica a cerca de duas horas da Praia, a caminho do Tarrafal.
A aldeia está cercada por montanhas imponentes, recortadas a verde e castanho.
As casas são abafadas e cheiram todas a falta de água. As paredes nunca chegaram a ser pintadas e têm décadas de mãos sujas de raspão.
Os olhares são curiosos e progressivamente mais. Uns chamam outros e percebe-se que somos a notícia do dia.
Aqui, como de resto um pouco por toda a ilha, a vida passa-se na rua. Os homens demoram-se nos cafés; as mulheres levam metade da vida à cabeça e os miúdos pela mão ou às costas, atados com um pano.
Cheira muitas vezes a refogado: umas tentam vender alguma comida, outras vendem frutas, bolachas, doces ou amendoins. Há ainda as que vendem roupa. E há as que vendem tudo isto.
É frequente ver-se meninas a fazer o lugar das mães, quer seja a tomar conta de irmãos mais novos, quer seja a vender, numa paciência venerável, muitas vezes ao ritmo de três ou quatro maçãs por dia.
Paramos numa rua onde o meu amigo tem um irmão. Fico à porta – não consigo voltar a entrar na casa – e assomo-me aos vizinhos, que gozam o dia a arrefecer. São quatro da tarde.
Um rancho de crianças. Têm vergonha de falar português e percebem mal o que digo. As mais velhas convidam-me, com gestos, a sentar-me, enxotando os dois meninos que lá estavam antes de mim. Observo-as, observam-me. Riem-se. Tenho vergonha de não saber falar crioulo e defendo-me da falta de palavras com fotografias.




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